7.19.2007

S. A. L.

Vamos inagurar o nosso serviço de atendimento ao leitor com um email do Gustavo Soares, o J. Essa é a resposta que recebemos dele ao nosso news letter improvisado. J, redator e surfista, vem colaborando com alguns posts e tem espaço garantido aqui no Chasing.

Eu não entendo nada sobre campeonatos de surf, embora eu esteja sempre competindo: sou eu contra as ondas, eu contra o crowd, eu contra o meu orgulho.
Afinal eu já tinha chegado numa situação confortável na vida, alguns caminhos já estavam sendo pavimentados e eu era feliz. Mas aí, há 657 dias, eu fiquei em pé numa prancha e as coisas mudaram. Resolvi deixar para trás quem quer que eu fosse fora da água e passei a perseguir alguém que vive dentro dela.
Já procurei esse alguém na Barra da Tijuca, em Camburi, no Guarujá, em Mancora (Peru), na Nova Zelândia e na Costa Rica – e na Costa Rica eu encontrei com ele algumas vezes, por rápidos minutos. Olhando as fotos da viagem eu vejo que o cara malandramente se colocou no meio da galera e saiu como se fosse eu. Mas não era. Eu sou branquelo, tenho menos cabelo e tenho a expressão preocupada.
Um dia eu estava com todo mundo dentro da água. Saí para cagar e o tal cara voltou com o meu Fun Board. Ele dropou duas ondas na sequência, recebeu os cumprimentos e saiu da água. Eu ouvi o Goda, o Gugu, toda a galera comentar: Mandou bem, porra, no pico, mó currrrvão. Eu fingi que entendia, fingi que estava agradecido, mas não era eu. Era ele. Eu sou o o que fica sentado aqui, que não sabe remar direito, que olha a previsão das ondas a cada 15 minutos e só consegue surfar uma, duas vezes por semana.
Já o cara é mais jovem, mais leve. Ele não se estressa com nada, porque entendeu que o mar é feito de milhares de moléculas de água que sacolejam com a passagem de energia durante milhares de quilômetros e de repente se alinham para a esquerda ou para a direita e permitem alguns segundos de uma sensação de vitória que nenhum orgasmo, nenhuma Copa do Mundo podem igualar. E também entendeu que só isso importa, azar do resto. Eu? Eu acho foda de tão difícil.
Leio sempre o seu blog, mas o que eu sei? O outro, que surfa, poderia opinar que o Bruce Irons tirar a camiseta e dar para o Mineirinho – ao contrário do que disse o pessoal do Sportv – foi uma demonstração de respeito, admissão de derrota, e por isso, de grandeza. Mas eu achei uma puta babaquice, talvez porque além de não surfar nada, ainda por cima não entendo nada de campeonatos de surf.
E agora vem esse seu email. Como disse, olho sempre o blog, porque acho que você escreve muito bem. Enfraquece às vezes, quando caga umas regritas, e está demorando cada vez mais para abrir com tantos penduricalhos que você coloca. Mas virou um hábito delicioso acessar Chasing The Lotus todos os dias. Tanto que eu já apareci lá, com um comentário sobre um livro de surf que só eu li (mal aí, Carlinhos, mas o primeiro a colaborar fui eu). Noves fora, o fato é que fiquei sem entender porque estou no meio dessa galera toda, esse crowd de bons surfistas, Mentawaiians, bintangueiros e tudo mais. Você sabe que eu não conheço todos os caras, eles não me conhecem, eu não tenho nada para acrescentar sobre vídeos, músicas e, mais uma vez, campeonatos. Por que será que você me botou na lista, se eu não estou nessa barca?
Aí me ocorreu que você tem o meu email, mas não tem o do outro eu. Se tivesse, tinha mandado para ele.

J

Um comentário:

Anônimo disse...

O J é mais maneiro que o Gustavo. Tem sal nas sombrancelhas.
Felipe, tira o e-mail do Gustavo da lista. Bota o do J.
Abraço J,
Carlinhos