7.01.2007

Quilhas - História ( Parte II )




Os Campbell

Os anos 70 foram considerados os anos dourados na evolução das quilhas e no design de pranchas. O australiano Nat Young começou a revolução alguns anos antes com o uso progressivo de pranchas menores e quilhas adaptadas para uma nova maneira de se surfar as ondas, com cavadas e as mudanças de borda antes nunca permitidas pelas antigas SKEGS, sem curva e razas demais. Mark Richards deu prosseguimento ao avanços, permitindo que nos anos 80 se chegasse a configuração de 3 quilhas, utilizada amplamente ao redor do mundo até os dias atuais. Foi o big rider australiano Simon Anderson, que desapontado com a performance das biquilhas difundidas por Richards, quem chegou nesse novo desenho, batizado por ele como Thruster e encontrado hoje em qualquer lugar do mundo. A Thruster abriu as portas para o surfe com rasgadas mais críticas e batidas capazes de espalhar jatos d'água muito acima da linha das ondas. No entanto, o crédito pelo surgimento da triquilha é polêmico.
Muito antes, ainda nos anos 70, os irmãos Duncan e Malcom Campbell, deparados com as mesmas limitações de Simmons com as biquilhas em ondas maiores e pesadas, foram os primeiros a desenhar uma prancha com 3 quilhas, denominadas por eles de Bonzer. Mas, por não serem surfistas profissionais, só puderam ver sua descoberta ser aceita pelo mainstream do surfe mundial muito tempo depois e pela mão de terceiros, um presságio de como a recém surgida indústria e mídia do surfe começariam a ditar as prioridades e eleger seus própios heróis. Empolgados pela confirmação de seu pioneirismo, os dois desenharam em 1982 a primeira Bonzer com 5 quilhas que, nos anos 90, graças a aceitação e difusão por parte de surfistas de nível internacional, entre eles Rob Machado, Taylor Knox, Donavon Frankenreiter e Joel Tudor, passou a ser levada a sério e suas ter suas qualidades reconhecidas. Tamanha a aceitação desse modelo que, hoje, ao falar o nome Bonzer, automaticamente associamos a 5 quilhas, esquecendo do primeiro formato e diminuindo um dos momentos de maior pioneirismo e independência na história recente do esporte.
O que a história de quilhas vem provar é que sua tecnolgia e conhecimento são frutos de tentativa e erro, e a melhora da performance resultado da simbiose entre as quilhas e o desenho das pranchas. Hoje, muito mais que direcionar o surfista na linha da onda, as quilhas, sejam single, bi, tri quad ou cinco, tornaram-se reponsáveis pelo avanço na técnica e na maneira de pensar o surfe, resultando numa história que ainda não parece ter chegado ao fim. Enquanto fecho esse artigo, a edição de agosto da Surfing americana traz duas matérias bastante reveladoras. Num deles, Dave Rastovich, free surfer neozelandês, reconhecido por seu experimentalismo, descreve as inovações de sua prancha e de suas quilhas, ambas baseadas numa antiga prancha utilizada por seu pai em 1980. Noutro, a revista destaca a vitória de CJ Hobgood, surfista americano, na etapa do WQS de Trestles, CA. Com o mar pequeno, Hobgood garantiu o primeiro lugar no pódio surfando com uma quadriquilha rabeta em V. Como tinha experimentado essa mesma prancha apenas uma vez antes, ele, em entrevista, sequer soube como denominar o novo equipamento, passando a responsabilidade para seu shaper, Bill Johnson.
Como o desenvolvimento de quilhas está intimamente ligado ao surgimento de novos conceitos no design das pranchas, muitas novidades prometem surgir. O encerramento das atividades da Clark Foam, principal fabricante de blocos no mundo, abrirá as portas para novos materiais e desenhos, e, graças a isso, quem sabe, em algum lugar do mundo, dois novos irmãos Campbell já tenham desenvolvido a prancha que você, eu e nossos filhos iremos surfar um dia. Continua.

No próximo artigo escreverei sobre os fundamentos no desenho da quilha. Abaixo, dois vídeos: o primeiro, um curta sobre a Bonzer e seus inventores. Noutro, a final de Trestles com Hobgood e sua quadriquilha. Vale assistir.



5 comentários:

Anônimo disse...

Lower Trestles? Check.

Anônimo disse...

Bom, já que tu tá levando a sério o Blog, aí vai...Dois eventos importantes relacionados as quilhas. A invenção e disseminação da quilha de encaixe (FCS, Future) que permitiu aos surfistas escolherem as quilhas de acordo com as condições do mar e estilo de surf de cada um sem ter que mudar de prancha e a outra, claro, foi a invenção da Quadriquilha pelo nosso, brasileiro, Ricardo Bocão. Isso aí. abs, Lambresi.

Anônimo disse...

Aí, as triquilhas dos Campbell pareciam mais uma monoquilha com dois estabilizadores do que a triquilha inventada e popularizada por Simon Anderson, que é usada até hoje. Lambresi tumultuando o blog.

Godum disse...

tá de parabens pela pesquisa,pricipalmente a dos primórdios.Aprendi coisas que não sabia.Legal.Os videos então, mandou bem.Quanto ao campeonato que o CJ ganhou era um WQS 4 estrelas em Lowers.
E a rabeta em V se chama swallow.
Valeu,
Proféssor

Anônimo disse...

Mandou bem. Nem precisa de comentários.
Com certeza as quilhas influenciaram e continuarão a influenciar o esporte. Natural. Bonzers, trusters, quadriquilhas, Skegs (Lambresi tem uma), monoquilhas, grandes, pequenas, toda essa variedade de quilhas e shapes, sejam novos ou antigos, servem hoje para agradar todos os estilos e tipos de surfistas e mostrar a cultura, a evolução e o ecletismo do surfe. Parabéns pela pesquisa. Ficou show.
Abraço,
Carlinhos