7.29.2007

O Sk8 e a Evolução do SrF


O skate surgiu no concreto e, mesmo tendo sido resultado da monotonia de um dia de mar flat, tomou rumos próprios para longe do surfe, seu esporte referência.
Mas as duas atividades continuaram compartilhando o descaso, o imediatismo e a falta de sentido aparente, além da irreverência e da possibilidade de serem, ambas, um canal de auto-expressão.
Rapidamente, o skate adquiriu uma áurea de banditismo e contravenção maiores que a de seu esporte irmão. Muito provavelmente por ter surgido nos espaços não catalogados das grandes cidades, entre as formas pavimentadas de concreto que não possuem um objetivo claro. As sociedades têm dificuldade de lidar com aquilo que não conseguem compartimentar. A esquina, que não é uma rua nem a outra, por exemplo, sempre é citada quando se quer descrever o cenário de bêbados, prostitutas ou marginais. O mito do vampiro, outro exemplo, descreve um personagem que não está morto nem vivo. O lobisomem, por sua vez, fala de um ser-humano, metade bicho, que aparece nas noites – claras como o dia - de lua cheia. A própria meia-noite, tão presente nas estórias de terror, não é o ontem nem o amanhã. Talvez por isso que a idéia de ter um filho skatista continue apavorando tanto as mães, mesmo após a consagração de Bob Burnquist e Mineirinho.
Skatistas mergulharam fundo nesse personagem marginal e, por estarem presentes em maior número em centros urbanos, sempre mais efervescentes que a praia, criaram laços profundos com músicos, designers gráficos e artistas. Fruto da identificação entre elementos deslocados e questionadores. Isso pula aos olhos de qualquer um que entre em contato com o movimento cultural que gira em torno da street art e de fabricantes, grandes ou pequenos, de skateboards e de roupas. Marcas como a Chocolate e a Girl Skateboards trazem, a cada ano, decks desenhados por vários nomes de peso. Nike e Adidas, só para citar o main stream, possuem divisões de profissionais pagos, únicamente, para criarem pontes entre a cultura das ruas, o skate e seus produtos (Dê um pulo no Sneaker Freaker e veja o resultado.). Esse é o caso de Fraser Cook que, atualmente, vive em Tóquio. Encarregado pela Nike de medir o pulso das ruas, Cook é o responsável por linhas de produtos que passam longe do jeitão dryfit e atlético em prol de trabalhos mais pertubadores e autênticos. Conseqüência de sua juventude nos subúrbios de Londres, ouvindo Sex Pistols e, obviamente, andando de skate.
O fato de surfistas estarem repetindo manobras do asfalto dentro d’água tem estampado as páginas das principais revistas especializadas do mundo. Talvez seja a hora das marcas de surfe seguirem o exemplo e repetirem, elas, o comportamento da indústria do skate em relação a áreas do design, das artes e da moda. Só a Quicksilver, que tem capital aberto, faturou mais de 2 bilhões de dólares em 2006 segundo a revista Fortune. E sem fazer outro esforço que não fosse pensar numa nova maneira de estampar seus logos, cada vez maiores, em bermudas, camisetas e bonés de gosto duvidoso. Quando muito, produziu filmes pobres de espírito e estéticamente decepcionantes como o Young Guns. Esses números provam que não precisamos esperar pelo aval olímpico para a injeção de grana no esporte e sua subsequente evolução. O que falta é imaginação e inconformismo.
Um bom começo para a mudança de comportamento da indústria seria a pintura e fabricação de pranchas. Surfistas não se comportam mais como se estivessem de pé sobre antiguidades do artesanato havaiano. Pelo contrário, dão 360, voam em aerials e ollies. Não parece justo que ainda tenham, como única alternativa, que pintar suas pranchas como canoas.

No trailer abaixo você vê trechos do filme Stuntwood, produzido por Michael Leon da Commonwealth Stacks.


2 comentários:

eu disse...

Acabei de ler o post sobre o Skate e a evolução do Surf e me deu vontade de comentar para abrir uma discussão: a gente deve torcer, e muito, para que o surf não seja descoberto pela indústria.

Porque ao contrário do skate, que utiliza os espaços "não-catalogados" da cidade, o surf depende do humor do mar. E está cada dia mais difícil encontrar um lugar não-catalogado para surfar. Se ficar ainda mais atraente do que é, não haverá ondas para todo mundo. Eu tenho pouco direito de reclamar, porque comecei a surfar recentemente. Mas claro que não acharia ruim encontrar a praia sempre vazia como estava no último sábado, manhã mais fria do ano em São Paulo.

Então melhor que o surf continue um segredo inescrutável para a vasta maioria. Que as camisetas da Quicksilver fiquem cada vez mais feias. Que a maioria dos filmes de surf continuem rasinhos, obrigando o Chasing The Lotus, o Ondas e o Julio Adler a recomendar os realmente bons. E que, como disse o Rodrigo Lambari, a Nike continue patrocinando o Sergei Bubka em vez de botar o swoosh nas pranchas.

Anônimo disse...

A evolução é natural, não tem jeito. Muitos irão surfar. Quero ver meu filho surfar. Temos é que nos preocupar em ter onda pra surfar e que sejam limpas e boas. E isso quem pode fazer são as industrias do surfe (manter limpas, nós tmb). Pois como elas iriam garantir suas vendas se nós não estivermos surfando?
Abs,
Carlinhos