7.03.2007

Quilhas - História ( Conclusão )

A história reserva um lugar especial para aqueles que, por visão ou decisão, abraçam causas e levantam bandeiras. Na correria do tempo e de seus registros, ficam para trás os cacos, os espasmos e aqueles que, por incerteza, titubearam ou não gritaram alto o suficiente. O ensinamento para quem chega é que se você não alardear e não acreditar na autoria de um invento, ou numa nova maneira de pensar, o crédito por sua participação pode escorrer pelos seus dedos. Talvez tenha sido isso que aconteceu com os irmãos Campbell, no caso da invenção da triquilha. Mas fato é que, dez anos depois, Simmon Anderson tomou para si essa nova visão e a elevou até um novo degrau. Hoje, a Thruster dele, mais que a Bonzer dos Campbell, se tornou o padrão vigente. Tanto por sua determinação em difundir a idéia, sendo obrigado a conquistar 3 etapas do WCT com sua prancha até ser levado a sério, uma delas em pleno Havaí, como pelos aperfeiçoamentos que fez nessas triquilhas, trazendo-as próximo ao estágio que conhecemos hoje.
Enquanto pesquisava a história das quilhas para o Chasing The Lotus, por sugestão de Rodrigo Amado, ex-shaper e surfista amigo, me deparei com uma matéria escrita por Ricardo Bocão, um dos maiores surfistas brasileiros de todos os tempos, conhecido por seu pioneirismo e determinação em surfar águas internacionais quando pouquíssimos brasileiros faziam isso, escrita para a Fluir. Nela, Bocão reclama para si a invenção da quadriquilha, dois anos antes de Glen Minami, shaper do North Shore havaiano, e Marttin Potter, surfista inglês campeão mundial em 1989, surgirem com um modelo parecido. Segundo Bocão, ele chegou na idéia de sua quad observando, lado a lado, uma biquilha e uma outra triquilha, provavelmente umas das primeiras a aterrizar em solo brasileiro, no final dos anos 70. Inspirado, foi para a oficina e meses depois estava no Havaí mostrando seu invento para Shaun Tomson, Randy Rarick e Aaron Chang, que o fotografou ao lado seu quiver. Fato é que o mundo estava de cabeça para baixo com tantas inovações no desenho de pranchas e a revista Surfing, três meses depois, estampou uma foto de Bocão e suas quilhas com o comentário de que o sucesso de Simon Anderson permitira, enfim, todo o tipo de experimentalismo. Injusto, com certeza, mas resultado de uma época e da determinação de alguns. Se Bocão tivesse vencido no Havaí e em Bell's com seu invento, como fez Simmons, talvez a história fosse outra, mas, isso, de maneira nenhuma, tira o mérito dele por experimentar e refletir sobre seu equipamento e a prática do surfe, nem por suas inúmeras conquistas no esporte.
Procurei muito na web a não tão famosa foto de Bocão que teria sido publicada na Surfing. Não encontrei, uma pena. Sem poder homenageá-lo, publico então uma foto do Rodrigo Amado, que me ajudou na conclusão desse capítulo. Nela, Rodrigo, ainda novo, tieta Mark Richard's, que fez por merecer. Depois, um vídeo com a entrevista de Simmons e suas ondas em Bell's e Pipeline, em 1980 e 81 respectivamente.

PS Alguns surfistas de tow in estão começando a resgatar um formato de quilha desenvolvido por Cheyne Horan em 1980: a Starfin (Também conhecida por Winged Keel.). Prova de que o experimentalismo continua sendo a principal força evolucionária no surf.





2 comentários:

Anônimo disse...

Show Felipe. Fechou com chave de ouro mesmo sem a merecida foto do Bocão. Como vc disse, uma pena.
Abraço,
Carlinhos

Anônimo disse...

Lambresi teen! Fininho! Está genial, parabéns. Abraço, Gustavo J