7.31.2007
Na Arrebentação
Ilustração: Evan Hecox
Da areia, sentado na canga de uma menina, ouvindo o Ipod ou o papo de pessoas que você não conhece, mas que estão ali ao lado, não dá pra imaginar o que é o line up. Aliás, antes de surfar, eu nem sabia que essa palavra existia. Parecia simples: as ondas vinham para todos e bastava você estar ali que tudo daria certo. Difícil mesmo parecia ficar em pé na prancha, o resto deveria ser mole. Claro que no momento que comecei a pegar o jeito e a me arriscar um pouco mais, recebi a dura lição. Surfar, antes de mais nada, significa aprender a dividir a arrebentação com outros surfistas e não me esqueço do meu cuidado para não atrapalhar qualquer um que estivesse num raio de 10km ao meu redor. No silêncio que reina n’água, tentava identificar os códigos de conduta, nem sempre claros, que fariam de mim um estorvo a menos e, conseqüentemente, um surfista a mais.
Quando decidi começar a escrever um blogue, ainda não tinha uma idéia muito clara do formato ou da pauta. Sempre achei que o surfe acabaria dominando alguns aspectos de seu conteúdo, afinal, esse é o assunto que, quando não estou trabalhando, estou fazendo ou sonhando. Mas nunca tive a pretensão de um dia ver o Chasing sendo indicado por outros blogues. Quanto menos, blogues de surfe. Achei que teria muita sorte se meus amigos apenas o lessem quando eu pedisse e me senti muito pressionado a encontrar informações um pouco fora da curva para que, ao menos, pudesse surprendê-los na originalidade.
Na semana passada, alguns blogues de bons surfistas, leitura obrigatória na web, recomendaram o Chasing para seus leitores: o Pedro Arruda do Ondas, o Giovanni Mancuso do Tracks e o Júlio Adler do Goiabada. No caso do Surf4ever, do Otto, chegamos a travar contato por email. O Mancuso também comentou algumas matérias no Chasing e o Pedro Arruda, com seu post, foi mais que generoso. Me senti novamente como quando estava começando a surfar, tentando não dar bandeira para os verdadeiros surfistas ao meu redor de que era um prego sem a menor idéia do que estava fazendo. Nem preciso dizer que na internet, para meu desespero, não dá para remar para longe. Naquela época, Gustavo Paixão, um amigo que tentava me convencer a aprender a surfar, me disse algumas palavras que continuam ecoando na minha cabeça como um mantra. “Felipe, surfar não é ficar em pé na prancha, fazer manobras e papagaidas. Surfar é prestar atenção no mar, no visual e curtir os brothers, trocando idéias dentro d’água. Você vai cair um porrada de vezes mas, numa hora, vai conseguir ficar de pé. Surfar é isso.”
Eu surfo por causa disso e sou muito grato aos amigos blogueiros que me permitiram dividir o line up com eles. Boas ondas para todos.
Surfe é rip (O rejuvenescimento do ser na era do ter.)
POR MÁRCIO MUSA, O MUSINHA - FOTO: VAVÁ RIBEIRO
Outro dia, fui surfar com um amigo meu, que já surfou bem nos anos 80/90, mas ele estava totalmente fora de forma. Pai de uma filha, advogado e acima do peso, estava sem remada alguma, sem rip, há meses sem molhar a prancha Joca Secco (já empoeirada) na água.
Após ter colocado "pilha" para a sua volta triunfante ao surfe, ele aceitou meu convite e fomos surfar no meio da Barra, Rio de Janeiro. As ondas, nas séries, tinham cerca de 1 metro e meio e abriam (algumas fechavam, vamos ser francos) com pouco vento e maré cheia.
Não foi tão fácil, pois ele estava fora do rip. Há uma espécie de sintonia com as ondas, ou você se encaixa, se acha no mar, ou não, fica boiando, meio perdido, sem ação. O mar te cobra atitude, decisões imediatas e remada em dia.
É o famoso binômio ônus & bônus: Sem remada, sem recompensa. Com remada, com êxito na performance.
Ricardo Martins, um grande e conhecido shaper carioca, declarou há muitos anos (nunca me esqueci disso): "Você deve manter a remada em dia, surfando (quando der) mesmo nos dias horríveis, para poder surfar bem nos dias bons e perfeitos. Sem remada, não há muito prazer nesse esporte, pois você apanha o tempo todo do mar, que passa a ser um incômodo."
Creio que duas ou três vezes por semana (quando muito) é suficiente para que um pai de família, trabalhador, mantenha a sua remada em dia.
Falo de surfistas um pouco mais experientes, mas que não ficam na areia moscando, enquanto a vida passa. Estudamos, trabalhamos, educamos os nossos filhos, mas o segredo da energia/inspiração/motivação para o dia-a-dia é através do rejuvenescimento dentro d'água, em contato direto com a mãe natureza. Um mês fora d'água, nem pensar. 10 DIAS sem surfar, você já deve ficar preocupado e ligar o alerta vermelho para não ficar enferrujado, oxidado.
Quando mais ferrugem, menor a motivação de voltar ao surfe. Você cai numa espécie de marasmo, de acomodação perigosa. Daí vem a barriga de chopp, a falta de ânimo, o stress, a fadiga, enfim, a falta de vibração/energia do ser. Vem a bola de neve de conseqüências ruinosas. Sem rip, sem inspiração, sem metas e sem sonhos, a vida fica mais pesada, mais depressiva e desgastante.
Por isso, não deixe a vida te levar. Não se leva nada dela também, mas você pode levá-la mais leve. Os momentos ficam, as ondas passam e o tempo voa. Cedo ou tarde, sua jornada chegará ao fim. Não fique pensando muito, parado e inerte, pois, assim, jamais sairá do lugar. Você pode dar o primeiro passo, colocar a prancha no carro, tomar uma atitude e voltar a surfar.
Mas só voltar ao esporte não basta.
Lembrem-se de que é preciso manter o rip. Surfe é rip.
Outro dia, fui surfar com um amigo meu, que já surfou bem nos anos 80/90, mas ele estava totalmente fora de forma. Pai de uma filha, advogado e acima do peso, estava sem remada alguma, sem rip, há meses sem molhar a prancha Joca Secco (já empoeirada) na água.
Após ter colocado "pilha" para a sua volta triunfante ao surfe, ele aceitou meu convite e fomos surfar no meio da Barra, Rio de Janeiro. As ondas, nas séries, tinham cerca de 1 metro e meio e abriam (algumas fechavam, vamos ser francos) com pouco vento e maré cheia.
Não foi tão fácil, pois ele estava fora do rip. Há uma espécie de sintonia com as ondas, ou você se encaixa, se acha no mar, ou não, fica boiando, meio perdido, sem ação. O mar te cobra atitude, decisões imediatas e remada em dia.
É o famoso binômio ônus & bônus: Sem remada, sem recompensa. Com remada, com êxito na performance.
Ricardo Martins, um grande e conhecido shaper carioca, declarou há muitos anos (nunca me esqueci disso): "Você deve manter a remada em dia, surfando (quando der) mesmo nos dias horríveis, para poder surfar bem nos dias bons e perfeitos. Sem remada, não há muito prazer nesse esporte, pois você apanha o tempo todo do mar, que passa a ser um incômodo."
Creio que duas ou três vezes por semana (quando muito) é suficiente para que um pai de família, trabalhador, mantenha a sua remada em dia.
Falo de surfistas um pouco mais experientes, mas que não ficam na areia moscando, enquanto a vida passa. Estudamos, trabalhamos, educamos os nossos filhos, mas o segredo da energia/inspiração/motivação para o dia-a-dia é através do rejuvenescimento dentro d'água, em contato direto com a mãe natureza. Um mês fora d'água, nem pensar. 10 DIAS sem surfar, você já deve ficar preocupado e ligar o alerta vermelho para não ficar enferrujado, oxidado.
Quando mais ferrugem, menor a motivação de voltar ao surfe. Você cai numa espécie de marasmo, de acomodação perigosa. Daí vem a barriga de chopp, a falta de ânimo, o stress, a fadiga, enfim, a falta de vibração/energia do ser. Vem a bola de neve de conseqüências ruinosas. Sem rip, sem inspiração, sem metas e sem sonhos, a vida fica mais pesada, mais depressiva e desgastante.
Por isso, não deixe a vida te levar. Não se leva nada dela também, mas você pode levá-la mais leve. Os momentos ficam, as ondas passam e o tempo voa. Cedo ou tarde, sua jornada chegará ao fim. Não fique pensando muito, parado e inerte, pois, assim, jamais sairá do lugar. Você pode dar o primeiro passo, colocar a prancha no carro, tomar uma atitude e voltar a surfar.
Mas só voltar ao esporte não basta.
Lembrem-se de que é preciso manter o rip. Surfe é rip.
7.30.2007
7.29.2007
14ºC
Do Wikipedia: HIPOTERMIA, do grego hypo, sob + thermé, calor, s.f, abaixamento da temperatura do corpo abaixo do normal (35ºC) de modo não intencional sendo seu metabolismo… Ninguém se arriscava a brincar na areia ou ficar sentado com uma cerveja vendo o mar, o que seria normal. Nem as cores apareceram. Os prédios da orla desaturaram sob a luz do dia nublado e a praia escureceu. A vista panorâmica de dentro dos apartamentos continuava, embora nenhuma das janelas estivessem abertas. Os moradores sequer apareciam por trás dos vidros que balançavam com o vento forte, frouxos em suas esquadrias. Estava assim o litoral. Os vendedores de côco, batida, milho e picolé se viram obrigados a encontrar um bico como pedreiro, pintor ou o que fosse, pois a frente fria lhes tomou parte do sustento e, nesse sábado, valeria qualquer oportunidade que lhes garantisse um qualquer.
Andar na parte rasa no sentido da arrebentação já serviu de prévia do que seria a próxima 1h30 de surfe. A água gelada encontrou caminho entre as costuras da roupa de borracha e, passo a passo, retardando mergulhar a cabeça n’água, segui até a arrebentação. As séries, com menos de 1 metro, vinham entre intervalos grandes mas no meio tempo, várias ondas menores e surfáveis balançavam o mar encrespado. Não me permiti ficar parado. Deitei em meu longboard para tirar os pés de dentro d’água e para me abaixar do vento que gelava as orelhas molhadas. Remei no máximo de ondas que pude e, para me esquentar, surfei umas três valas diferentes que formavam as ondas ao longo do canto direito de Pitangueiras e Astúrias. …sendo seu metabolismo prejudicado. Se a temperatura ficar abaixo de 32ºC, a condição pode ficar crítica ou até fatal. Temperaturas quase sempre fatais… Depois de umas boas ondas surfadas sem que eu conseguisse ultrapassar a sessão que fechava bem a minha frente, um sujeito, que já surfava desde cedo, perguntou de longe se minha quilha era daquelas que se podia ajustar com a mão. Ele se referia ao parafuso que a prende na caixa e, com minha resposta positiva, se apressou a me aconselhar, quase como se estivesse ordenando - tamanha sua certeza, a empurrá-la totalmente para trás. Por um momento achei que minha quilha estivesse solta mas, depois, entendi o que ele dizia e que, por quase um ano, estava surfando com o meu equipamento mal ajustado. Ele explicou que se a quilha central estiver muito próxima dos estabilizadores, o drag aumenta muito e a prancha perde velocidade. Foi a primeira vez que recebi um conselho dentro d’água vindo de um desconhecido. Ele continuou a explicar que sem os estabilizadores a regra é outra e a quilha pode ir mais pra frente. Peguei uma onda e tudo havia mudado realmente. Eu continuava o mesmo prego mas minha prancha ficou mais rápida, facilitando muito o cutback que consegui encaixar na onda seguinte. Não pude deixar de pensar nas ondas de Pavones em que fiquei pra trás quando sentia, logo após o drop, a borda da rabeta presa dentro d’água. Pensei também, muito grato, em como um dia frio daqueles, contraditóriamente, havia produzido um ato de camaradagem no mar. De resto, foi um bom dia de surfe como outro qualquer, com o frio indo e vindo no pensamento. …quase sempre fatais, são aquelas abaixo de 27ºC. No entanto há relatos de sobreviventes com temperaturas inferiores à 14ºC.
Andar na parte rasa no sentido da arrebentação já serviu de prévia do que seria a próxima 1h30 de surfe. A água gelada encontrou caminho entre as costuras da roupa de borracha e, passo a passo, retardando mergulhar a cabeça n’água, segui até a arrebentação. As séries, com menos de 1 metro, vinham entre intervalos grandes mas no meio tempo, várias ondas menores e surfáveis balançavam o mar encrespado. Não me permiti ficar parado. Deitei em meu longboard para tirar os pés de dentro d’água e para me abaixar do vento que gelava as orelhas molhadas. Remei no máximo de ondas que pude e, para me esquentar, surfei umas três valas diferentes que formavam as ondas ao longo do canto direito de Pitangueiras e Astúrias. …sendo seu metabolismo prejudicado. Se a temperatura ficar abaixo de 32ºC, a condição pode ficar crítica ou até fatal. Temperaturas quase sempre fatais… Depois de umas boas ondas surfadas sem que eu conseguisse ultrapassar a sessão que fechava bem a minha frente, um sujeito, que já surfava desde cedo, perguntou de longe se minha quilha era daquelas que se podia ajustar com a mão. Ele se referia ao parafuso que a prende na caixa e, com minha resposta positiva, se apressou a me aconselhar, quase como se estivesse ordenando - tamanha sua certeza, a empurrá-la totalmente para trás. Por um momento achei que minha quilha estivesse solta mas, depois, entendi o que ele dizia e que, por quase um ano, estava surfando com o meu equipamento mal ajustado. Ele explicou que se a quilha central estiver muito próxima dos estabilizadores, o drag aumenta muito e a prancha perde velocidade. Foi a primeira vez que recebi um conselho dentro d’água vindo de um desconhecido. Ele continuou a explicar que sem os estabilizadores a regra é outra e a quilha pode ir mais pra frente. Peguei uma onda e tudo havia mudado realmente. Eu continuava o mesmo prego mas minha prancha ficou mais rápida, facilitando muito o cutback que consegui encaixar na onda seguinte. Não pude deixar de pensar nas ondas de Pavones em que fiquei pra trás quando sentia, logo após o drop, a borda da rabeta presa dentro d’água. Pensei também, muito grato, em como um dia frio daqueles, contraditóriamente, havia produzido um ato de camaradagem no mar. De resto, foi um bom dia de surfe como outro qualquer, com o frio indo e vindo no pensamento. …quase sempre fatais, são aquelas abaixo de 27ºC. No entanto há relatos de sobreviventes com temperaturas inferiores à 14ºC.
O Sk8 e a Evolução do SrF
O skate surgiu no concreto e, mesmo tendo sido resultado da monotonia de um dia de mar flat, tomou rumos próprios para longe do surfe, seu esporte referência.
Mas as duas atividades continuaram compartilhando o descaso, o imediatismo e a falta de sentido aparente, além da irreverência e da possibilidade de serem, ambas, um canal de auto-expressão.
Rapidamente, o skate adquiriu uma áurea de banditismo e contravenção maiores que a de seu esporte irmão. Muito provavelmente por ter surgido nos espaços não catalogados das grandes cidades, entre as formas pavimentadas de concreto que não possuem um objetivo claro. As sociedades têm dificuldade de lidar com aquilo que não conseguem compartimentar. A esquina, que não é uma rua nem a outra, por exemplo, sempre é citada quando se quer descrever o cenário de bêbados, prostitutas ou marginais. O mito do vampiro, outro exemplo, descreve um personagem que não está morto nem vivo. O lobisomem, por sua vez, fala de um ser-humano, metade bicho, que aparece nas noites – claras como o dia - de lua cheia. A própria meia-noite, tão presente nas estórias de terror, não é o ontem nem o amanhã. Talvez por isso que a idéia de ter um filho skatista continue apavorando tanto as mães, mesmo após a consagração de Bob Burnquist e Mineirinho.
Skatistas mergulharam fundo nesse personagem marginal e, por estarem presentes em maior número em centros urbanos, sempre mais efervescentes que a praia, criaram laços profundos com músicos, designers gráficos e artistas. Fruto da identificação entre elementos deslocados e questionadores. Isso pula aos olhos de qualquer um que entre em contato com o movimento cultural que gira em torno da street art e de fabricantes, grandes ou pequenos, de skateboards e de roupas. Marcas como a Chocolate e a Girl Skateboards trazem, a cada ano, decks desenhados por vários nomes de peso. Nike e Adidas, só para citar o main stream, possuem divisões de profissionais pagos, únicamente, para criarem pontes entre a cultura das ruas, o skate e seus produtos (Dê um pulo no Sneaker Freaker e veja o resultado.). Esse é o caso de Fraser Cook que, atualmente, vive em Tóquio. Encarregado pela Nike de medir o pulso das ruas, Cook é o responsável por linhas de produtos que passam longe do jeitão dryfit e atlético em prol de trabalhos mais pertubadores e autênticos. Conseqüência de sua juventude nos subúrbios de Londres, ouvindo Sex Pistols e, obviamente, andando de skate.
O fato de surfistas estarem repetindo manobras do asfalto dentro d’água tem estampado as páginas das principais revistas especializadas do mundo. Talvez seja a hora das marcas de surfe seguirem o exemplo e repetirem, elas, o comportamento da indústria do skate em relação a áreas do design, das artes e da moda. Só a Quicksilver, que tem capital aberto, faturou mais de 2 bilhões de dólares em 2006 segundo a revista Fortune. E sem fazer outro esforço que não fosse pensar numa nova maneira de estampar seus logos, cada vez maiores, em bermudas, camisetas e bonés de gosto duvidoso. Quando muito, produziu filmes pobres de espírito e estéticamente decepcionantes como o Young Guns. Esses números provam que não precisamos esperar pelo aval olímpico para a injeção de grana no esporte e sua subsequente evolução. O que falta é imaginação e inconformismo.
Um bom começo para a mudança de comportamento da indústria seria a pintura e fabricação de pranchas. Surfistas não se comportam mais como se estivessem de pé sobre antiguidades do artesanato havaiano. Pelo contrário, dão 360, voam em aerials e ollies. Não parece justo que ainda tenham, como única alternativa, que pintar suas pranchas como canoas.
No trailer abaixo você vê trechos do filme Stuntwood, produzido por Michael Leon da Commonwealth Stacks.
7.27.2007
O Surfe Não É Um Esporte Olímpico
POR RODRIGO AMADO, O LAMBARI
China Surf Open 2006
A razão não poderia ser mais óbvia. Não tem onda em todas as sedes escolhidas para os Jogos Olímpicos. Desde 1968, 5 vezes os Jogos Olímpicos foram em países onde não haviam ondas. 1972 - Alemanha, 1976 - Canadá, 1980 - União Soviética, 1988 - Coréia do Sul, 2004 - Grécia e em 2008 será na China.
Não tem onda. Será?
23 picos de surf na China. Rússia? Pergunta pro Tom Curren. Na Alemanha, pegam ondas sem fim no Rio Isar. Canadá rolam ondas dos dois lados, Vancouver e Nova Scotia. Coréia também tem! Typhoons waves. Grécia, mais de 50 picos de surf.
Tudo bem, as ondas nesses lugares são ruins, inconstantes, pequenas, de difícil acesso e etc. E no Brasil? Imbituba? WCT!!! Até a piscina de onda não pode ser descartada, afinal, no Japão já rolou etapa da ASP (Fabinho levou!) por mais de uma vez.
Se o surfe fosse esporte olímpico sua exposição seria muito maior, os patrocínios transbordariam as fronteiras do surfwear, os atletas se tornariam super astros ao conquistar uma medalha de ouro que fez o seu país subir uma ou duas posições no quadro de medalhas, os contratos com os "surfistas olímpicos" seriam milionários, na equipe da Nike estariam Slater, os Hobgood e Cris Ward, na Adidas, Marlon Lipke (surfista alemão WQS) estaria recebendo todos os investimentos possíveis, pranchas da Reebok feitas de methaliuretan injetado, a Nike com as pranchas SurfAir com bolhas de ar internas, parafinas de elastorine em spray, leashes de 0.2mm que não arrebentam fabricado pela Speedo. Imagina, o Slater subindo ao pódio com "agasalho" da equipe americana, colocando a mão no peito, ostentando sua medalha de ouro e cantando "Oh, say can you see, by the dawn's early light, What so proudly we hailed..." Ou na borda da piscina do parque aquático Maria Lenk um pódio com Andy Irons, Taj Burrow e Mineirinho levando o bronze, honrando a casa.
O esporte iria ser catapultado para um outro nível. Seria a era dos atletas desenvolvidos para serem máquinas de vitória nos mares da China, Havaí, Austrália ou da Coréia. A evolução, tão esperada e desejada, iria finalmente acontecer.
Mas... graças a deus ainda estamos longe dessa maldição. O surfe não é um esporte olímpico e nunca vai ser, pelo menos esse é meu desejo. Na verdade não sei nem se o surfe deveria ser considerado um esporte, é muito maior que isso. Como compará-lo ao salto com vara por exemplo? Imagine você, acordando as 5 da manhã, colocando sua vara de baixo do braço e saltando, saltando e saltando, por 6 horas seguidas, pára, come um açaí, volta pra mais uma sessão de saltos, todos os dias, 300 dias por ano. Se o Sergei Bubka tivesse surfado uma vez na vida, com certeza não estaria lá. Deu mole, afinal, até na Rússia tem onda.
China Surf Open 2006
A razão não poderia ser mais óbvia. Não tem onda em todas as sedes escolhidas para os Jogos Olímpicos. Desde 1968, 5 vezes os Jogos Olímpicos foram em países onde não haviam ondas. 1972 - Alemanha, 1976 - Canadá, 1980 - União Soviética, 1988 - Coréia do Sul, 2004 - Grécia e em 2008 será na China.
Não tem onda. Será?
23 picos de surf na China. Rússia? Pergunta pro Tom Curren. Na Alemanha, pegam ondas sem fim no Rio Isar. Canadá rolam ondas dos dois lados, Vancouver e Nova Scotia. Coréia também tem! Typhoons waves. Grécia, mais de 50 picos de surf.
Tudo bem, as ondas nesses lugares são ruins, inconstantes, pequenas, de difícil acesso e etc. E no Brasil? Imbituba? WCT!!! Até a piscina de onda não pode ser descartada, afinal, no Japão já rolou etapa da ASP (Fabinho levou!) por mais de uma vez.
Se o surfe fosse esporte olímpico sua exposição seria muito maior, os patrocínios transbordariam as fronteiras do surfwear, os atletas se tornariam super astros ao conquistar uma medalha de ouro que fez o seu país subir uma ou duas posições no quadro de medalhas, os contratos com os "surfistas olímpicos" seriam milionários, na equipe da Nike estariam Slater, os Hobgood e Cris Ward, na Adidas, Marlon Lipke (surfista alemão WQS) estaria recebendo todos os investimentos possíveis, pranchas da Reebok feitas de methaliuretan injetado, a Nike com as pranchas SurfAir com bolhas de ar internas, parafinas de elastorine em spray, leashes de 0.2mm que não arrebentam fabricado pela Speedo. Imagina, o Slater subindo ao pódio com "agasalho" da equipe americana, colocando a mão no peito, ostentando sua medalha de ouro e cantando "Oh, say can you see, by the dawn's early light, What so proudly we hailed..." Ou na borda da piscina do parque aquático Maria Lenk um pódio com Andy Irons, Taj Burrow e Mineirinho levando o bronze, honrando a casa.
O esporte iria ser catapultado para um outro nível. Seria a era dos atletas desenvolvidos para serem máquinas de vitória nos mares da China, Havaí, Austrália ou da Coréia. A evolução, tão esperada e desejada, iria finalmente acontecer.
Mas... graças a deus ainda estamos longe dessa maldição. O surfe não é um esporte olímpico e nunca vai ser, pelo menos esse é meu desejo. Na verdade não sei nem se o surfe deveria ser considerado um esporte, é muito maior que isso. Como compará-lo ao salto com vara por exemplo? Imagine você, acordando as 5 da manhã, colocando sua vara de baixo do braço e saltando, saltando e saltando, por 6 horas seguidas, pára, come um açaí, volta pra mais uma sessão de saltos, todos os dias, 300 dias por ano. Se o Sergei Bubka tivesse surfado uma vez na vida, com certeza não estaria lá. Deu mole, afinal, até na Rússia tem onda.
7.25.2007
Cordless
Sol, boas ondas, surf music na areia e pranchões na água. Uma típica cena de Endless Summer recriada graças a um dos campeonatos de surf mais tradicionais na história do esporte: o Big Stick Surfing Association Logjam. A regra é clara: sufistas de todas as idades - divididos entre as categorias júnior, adulto e master, masculino e feminino, e, ainda, a disputa de equipes formadas pelos clubes de surfe locais - surfando com pranchas fabricadas antes de 1970, pesando, obrigatóriamente, acima de 9kg e sem leash.
Nesse ano, o palco do evento, realizado no ultimo final-de-semana de abril, foi a praia de Pleasure Point, Santa Cruz, CA. Com ondas de 1 metro no segundo dia e mais de 100 competidores se revesando nas baterias, o evento conseguiu arrecadar mais de U$ 4.000, doados à família de um falecido surfista local e dono de uma surf shop, morto em fevereiro após lutar durante anos contra o câncer.
O vencedor da categoria master foram Marciano "Chango" Cruz e seu longboard Stewart, fabricado em 1966.
O presidente da Big Stick, Gioni Pasquinelli, define o evento:
"It's more about the old boards, the nostalgia, and people from all the surf clubs getting together and having a good time."
7.24.2007
Hawaii Surf Session Report
POR GUSTAVO SOARES
Há mais de um ano eu conheci esse genial videocast de surf, nem me lembro direito como.
Baixei um episódio no iTunes, dei o play e começou a tocar a musiquinha esquisita de fundo para uma abertura totalmente retrô. Começaram as imagens: uma manhã ensolarada, Waikiki cheio de longboarders. E com uma narração engraçada, cheia de interpretações e falsetes. Nunca mais parei de assistir.
O criador, diretor, narrador e câmera do programa é um cara chamado Tom E Stokes.
Ele sai, câmera na mão, e filma 3 ou 4 picos diferentes por episódio. Tem os famosos, como Pipeline, Off the Wall, Backdoor, mas volta e meia aparecem lugares menos radicais como Point Panics ou Kahaluu, com gente fazendo body surf, surf com remo, canoas e até body board – que todo mundo deleta, obviamente. Mas como o cara sabe filmar surf, é bom de ver mesmo quando o mar está pequeno. Aliás é reconfortante ver que até no Hawaii o mar vive pequeno.
Dá para perceber nos episódios o respeito que esse haole tem pela ilha e que a ilha tem por ele: nunca faltam cumprimentos para a câmera e gente dando entrevista. E aparece música boa, só de bandas desconhecidas que ele descobre no MySpace. Dia desses eu gostei tanto da trilha que comprei o CD no site da banda. Depois fiz uma doação de 10 doletas para o programa e escrevi um email elogiando. O Tom respondeu em 15 minutos, e acho que vai colocar um link para o Chasing quando souber que falamos dele aqui:
Aloha Gustavo
Nice to hear from you.
Glad the music and the episode served its purpose.
Thank you very very much for buying one of their CD's
by supporting the bands that support this show, you stoke me out and
most importantly it stokes them out too. You Rock!
Also thank you for your donation, it really helps me keep the show going!
I want to thank you for sharing with me your experience and the shows effect
on your otherwise busy world. It is truly my pleasure to produce
quality programing that is uplifting and soulful, it's like a five minute vacation.
We all get immersed in everyday stresses and sometimes forget what
it's all about, glad you find solstice in my show.
Keep on watching and thank you for your loyal viewership.
Aloha, Aw-right
tom
Enfim, eu apresentei o HSSR para o Proféssor (Godum) faz um tempo e ele curtiu, apresentei para o Felipe ontem, que também curtiu. Agora que está testado e aprovado, proponho que todo mundo acesse e que a gente transforme num cult.
Obs: Para assinar, é só buscar HSSR no "search iTunes store" (pra quem não sabe, fica no canto superior direito da tela). E também dá para ver no site: www.surfsessionreport.com
Há mais de um ano eu conheci esse genial videocast de surf, nem me lembro direito como.
Baixei um episódio no iTunes, dei o play e começou a tocar a musiquinha esquisita de fundo para uma abertura totalmente retrô. Começaram as imagens: uma manhã ensolarada, Waikiki cheio de longboarders. E com uma narração engraçada, cheia de interpretações e falsetes. Nunca mais parei de assistir.
O criador, diretor, narrador e câmera do programa é um cara chamado Tom E Stokes.
Ele sai, câmera na mão, e filma 3 ou 4 picos diferentes por episódio. Tem os famosos, como Pipeline, Off the Wall, Backdoor, mas volta e meia aparecem lugares menos radicais como Point Panics ou Kahaluu, com gente fazendo body surf, surf com remo, canoas e até body board – que todo mundo deleta, obviamente. Mas como o cara sabe filmar surf, é bom de ver mesmo quando o mar está pequeno. Aliás é reconfortante ver que até no Hawaii o mar vive pequeno.
Dá para perceber nos episódios o respeito que esse haole tem pela ilha e que a ilha tem por ele: nunca faltam cumprimentos para a câmera e gente dando entrevista. E aparece música boa, só de bandas desconhecidas que ele descobre no MySpace. Dia desses eu gostei tanto da trilha que comprei o CD no site da banda. Depois fiz uma doação de 10 doletas para o programa e escrevi um email elogiando. O Tom respondeu em 15 minutos, e acho que vai colocar um link para o Chasing quando souber que falamos dele aqui:
Aloha Gustavo
Nice to hear from you.
Glad the music and the episode served its purpose.
Thank you very very much for buying one of their CD's
by supporting the bands that support this show, you stoke me out and
most importantly it stokes them out too. You Rock!
Also thank you for your donation, it really helps me keep the show going!
I want to thank you for sharing with me your experience and the shows effect
on your otherwise busy world. It is truly my pleasure to produce
quality programing that is uplifting and soulful, it's like a five minute vacation.
We all get immersed in everyday stresses and sometimes forget what
it's all about, glad you find solstice in my show.
Keep on watching and thank you for your loyal viewership.
Aloha, Aw-right
tom
Enfim, eu apresentei o HSSR para o Proféssor (Godum) faz um tempo e ele curtiu, apresentei para o Felipe ontem, que também curtiu. Agora que está testado e aprovado, proponho que todo mundo acesse e que a gente transforme num cult.
Obs: Para assinar, é só buscar HSSR no "search iTunes store" (pra quem não sabe, fica no canto superior direito da tela). E também dá para ver no site: www.surfsessionreport.com
7.23.2007
Estilo
POR EDUARDO SIQUEIRA, O GODUM
Se alguem citar estilo e surf, para muitos logo vem a mente aquelas imagens clásicas de um cara fazendo uma cavada anos 70, totalmente em harmonia com a onda.
Mas vamos deixar essa epóca de lado e focar no presente. Sempre se acusou os campeonatos de corromperem o surf e de irem contra o espírito de soul surfing, viagens e tudo mais. Não concordo com essa linha de pensamento e acredito que o estilo de se surfar uma onda seja algo bem pessoal. O cara surfa bonito ou não. É uma forma de expressão que não depende das qualidades técnicas do sujeito. Tipo Pelé e Dadá Maravilha. Dario jogava feio mas, meio sem jeito, fez centenas de gols e foi artilheiro nos times em que jogou. Como no futebol, sempre vão existir surfistas com muita técnica e um surf feio. Mas existem outros que além da técnica possuem harmonia, sintonia e uma leveza que é bonito de se ver.
As competições provam que surfar bonito faz a diferença. Dando uma olhada nos Top 5 desde 1983, ano do primeiro título de Tom Carrol no WCT, pouquíssimas vezes teve um surfista de surf feio. Opiniões à parte, talvez o Glen Winton em 85 e o Rob Bain em 90 tenham sido as exceções. E é isso que faz a diferença num julgamento de surf. Todos os Top WCT tem as mesmas manobras na bagagem, mas o jeito de fazer é que o destaque. O julgamento hoje prioriza radicalidade com harmonia na onda. É fazer uma manobra complicada parecer fácil, sem esforço, e transparecer a sintonia com a onda e com o que ela proporciona. A mesma sintonia do tal cara do pranchão fazendo uma cavada parecer easy.
"A surfer must perform radical controlled manoeuvres in the critical section of a wave with Speed, Power and Flow to maximize scoring potential. Innovative / Progressive surfing as well as Variety of Repertoire (manoeuvres),will be taken into consideration when rewarding points for waves ridden. The surfer who executes this criteria with the maximum Degree of Difficulty and Commitment on the waves shall be rewarded with the higher scores." ASP World Tour
Se alguem citar estilo e surf, para muitos logo vem a mente aquelas imagens clásicas de um cara fazendo uma cavada anos 70, totalmente em harmonia com a onda.
Mas vamos deixar essa epóca de lado e focar no presente. Sempre se acusou os campeonatos de corromperem o surf e de irem contra o espírito de soul surfing, viagens e tudo mais. Não concordo com essa linha de pensamento e acredito que o estilo de se surfar uma onda seja algo bem pessoal. O cara surfa bonito ou não. É uma forma de expressão que não depende das qualidades técnicas do sujeito. Tipo Pelé e Dadá Maravilha. Dario jogava feio mas, meio sem jeito, fez centenas de gols e foi artilheiro nos times em que jogou. Como no futebol, sempre vão existir surfistas com muita técnica e um surf feio. Mas existem outros que além da técnica possuem harmonia, sintonia e uma leveza que é bonito de se ver.
As competições provam que surfar bonito faz a diferença. Dando uma olhada nos Top 5 desde 1983, ano do primeiro título de Tom Carrol no WCT, pouquíssimas vezes teve um surfista de surf feio. Opiniões à parte, talvez o Glen Winton em 85 e o Rob Bain em 90 tenham sido as exceções. E é isso que faz a diferença num julgamento de surf. Todos os Top WCT tem as mesmas manobras na bagagem, mas o jeito de fazer é que o destaque. O julgamento hoje prioriza radicalidade com harmonia na onda. É fazer uma manobra complicada parecer fácil, sem esforço, e transparecer a sintonia com a onda e com o que ela proporciona. A mesma sintonia do tal cara do pranchão fazendo uma cavada parecer easy.
"A surfer must perform radical controlled manoeuvres in the critical section of a wave with Speed, Power and Flow to maximize scoring potential. Innovative / Progressive surfing as well as Variety of Repertoire (manoeuvres),will be taken into consideration when rewarding points for waves ridden. The surfer who executes this criteria with the maximum Degree of Difficulty and Commitment on the waves shall be rewarded with the higher scores." ASP World Tour
O Muro
Os prédios antigos da orla da Praia de Pitangueiras, Guarujá, me pareceram formar, juntos, um muro irregular, deslocado da geografia da ilha pelo seu tamanho e desproporção. E, por mais que soe contraditório, isso era bonito de ver dali de onde eu estava. Pareciam todos um pouco gastos e, por isso, mais verdadeiros, o que me levou a refletir sobre o tempo que as construções levam para serem absorvidas pela vida. Enquanto pensava, o mar me dava uma lição dura e gelada de que nem sempre um sábado de manhã é um sábado de manhã. Eu já boiava sobre minha prancha a uma hora e meia, tentando surfar ondas muito pequenas e exparsas e até aquele momento meu corpo não pareceu dar sinais de que se acostumaria com a água fria. Muitas vezes eu remei sem outro objetivo que não fosse me mexer um pouco. Claro que eu já sabia que as condicões seriam muito ruins e, no momento em que cheguei no litoral, pensei, ainda de dentro do carro, que talvez nem valesse a pena me molhar. Superar a vontade de desistir diante da falta de desafios proporcionada pela visão do oceano, foi, em si mesma, uma batalha a parte. Mas, depois, saindo da areia em direção ao carro, sob os olhares quase debochados de quem andava agasalhado pela calçada, fiquei com a sensação de ter valido a pena. Afinal, sombrancelhas salgadas, a boca seca e os ombros cansados são os mesmos, tenha sido o dia de surfe bom ou horrível - como no caso - e esse pensamento animou o papo na estrada de volta para casa. No canto da cabeça, a sensação de inutilidade do nosso esforço ainda sobrevivia, teimando em aparecer nos raros momentos de silêncio, e tomou força quando o trânsito nos obrigou a parar por alguns minutos na subida da serra. Foi nessa hora que, do meu lado esquerdo, vi um homen correndo em passos curtos pelo acostamento no sentido contrário ao nosso. Num intervalo de uns 15 metros atrás dele, uma mulher, também correndo, vestindo moleton, camiseta e com um agasalho amarrado na cintura, passou pelo nosso carro sorrindo, com uma expressão de otimismo inexplicável. Aquela visão me causou a sensação de déjà vu e tinha me conformado com isso até que um terceiro sujeito, mais peculiar, me saltou aos olhos. De longe, ele parecia uma mulher desajeitada e feia. Tinha cabelos encaracolados, longos e um pouco ruivos, presos como um rabo de cavalo. Usava boné vermelho, camisa branca, bermuda preta e meias marrons. O rosto era sardento e magro. Dava para imaginar o seu crânio através da camada de pele fina. Muito alto, mantinha os joelhos dobrados de maneira pouco natural enquanto dava suas passadas. Cutuquei um amigo que dirigia e apontei na direção do corredor desajeitado e imediatamente percebemos o que acontecia.
“Caralho, esse é aquele cara que passamos na descida da serra de manhã!”
Mais cedo, umas 5 horas antes, vimos aqueles três correndo num ponto da estrada muito acima e distante de onde estávamos agora. Erradamente, imaginamos ser uma corrida matinal como muitas e não o desafio que fomos perceber depois. Abrimos o vidro e nos inclinamos para fora. Queria que ele soubesse que eu tinha reconhecido o seu esforço e obstinação e no momento que ia dizer alguma palavra, ele nos olhou, fechou as duas mãos e agitou os braços no ar enquanto gritava com os olhos injetados. Surpresos, primeiro por nossa constatação e depois pela reação do corredor, o máximo que conseguimos fazer foi ficar de boca aberta, as mãos acenando um hang. Ele continuou seu périplo estrada abaixo enquanto eu fechava o vidro pensando naquela comemoração fora de hora, provavelmente muito longe do seu destino final. Ele celebrou a luta, a teimosia e não o sucesso. Comemorou a inutilidade daquilo tudo e salvou, assim, a minha manhã de sábado.
7.19.2007
S. A. L.
Vamos inagurar o nosso serviço de atendimento ao leitor com um email do Gustavo Soares, o J. Essa é a resposta que recebemos dele ao nosso news letter improvisado. J, redator e surfista, vem colaborando com alguns posts e tem espaço garantido aqui no Chasing.
Eu não entendo nada sobre campeonatos de surf, embora eu esteja sempre competindo: sou eu contra as ondas, eu contra o crowd, eu contra o meu orgulho.
Afinal eu já tinha chegado numa situação confortável na vida, alguns caminhos já estavam sendo pavimentados e eu era feliz. Mas aí, há 657 dias, eu fiquei em pé numa prancha e as coisas mudaram. Resolvi deixar para trás quem quer que eu fosse fora da água e passei a perseguir alguém que vive dentro dela.
Já procurei esse alguém na Barra da Tijuca, em Camburi, no Guarujá, em Mancora (Peru), na Nova Zelândia e na Costa Rica – e na Costa Rica eu encontrei com ele algumas vezes, por rápidos minutos. Olhando as fotos da viagem eu vejo que o cara malandramente se colocou no meio da galera e saiu como se fosse eu. Mas não era. Eu sou branquelo, tenho menos cabelo e tenho a expressão preocupada.
Um dia eu estava com todo mundo dentro da água. Saí para cagar e o tal cara voltou com o meu Fun Board. Ele dropou duas ondas na sequência, recebeu os cumprimentos e saiu da água. Eu ouvi o Goda, o Gugu, toda a galera comentar: Mandou bem, porra, no pico, mó currrrvão. Eu fingi que entendia, fingi que estava agradecido, mas não era eu. Era ele. Eu sou o o que fica sentado aqui, que não sabe remar direito, que olha a previsão das ondas a cada 15 minutos e só consegue surfar uma, duas vezes por semana.
Já o cara é mais jovem, mais leve. Ele não se estressa com nada, porque entendeu que o mar é feito de milhares de moléculas de água que sacolejam com a passagem de energia durante milhares de quilômetros e de repente se alinham para a esquerda ou para a direita e permitem alguns segundos de uma sensação de vitória que nenhum orgasmo, nenhuma Copa do Mundo podem igualar. E também entendeu que só isso importa, azar do resto. Eu? Eu acho foda de tão difícil.
Leio sempre o seu blog, mas o que eu sei? O outro, que surfa, poderia opinar que o Bruce Irons tirar a camiseta e dar para o Mineirinho – ao contrário do que disse o pessoal do Sportv – foi uma demonstração de respeito, admissão de derrota, e por isso, de grandeza. Mas eu achei uma puta babaquice, talvez porque além de não surfar nada, ainda por cima não entendo nada de campeonatos de surf.
E agora vem esse seu email. Como disse, olho sempre o blog, porque acho que você escreve muito bem. Enfraquece às vezes, quando caga umas regritas, e está demorando cada vez mais para abrir com tantos penduricalhos que você coloca. Mas virou um hábito delicioso acessar Chasing The Lotus todos os dias. Tanto que eu já apareci lá, com um comentário sobre um livro de surf que só eu li (mal aí, Carlinhos, mas o primeiro a colaborar fui eu). Noves fora, o fato é que fiquei sem entender porque estou no meio dessa galera toda, esse crowd de bons surfistas, Mentawaiians, bintangueiros e tudo mais. Você sabe que eu não conheço todos os caras, eles não me conhecem, eu não tenho nada para acrescentar sobre vídeos, músicas e, mais uma vez, campeonatos. Por que será que você me botou na lista, se eu não estou nessa barca?
Aí me ocorreu que você tem o meu email, mas não tem o do outro eu. Se tivesse, tinha mandado para ele.
J
Eu não entendo nada sobre campeonatos de surf, embora eu esteja sempre competindo: sou eu contra as ondas, eu contra o crowd, eu contra o meu orgulho.
Afinal eu já tinha chegado numa situação confortável na vida, alguns caminhos já estavam sendo pavimentados e eu era feliz. Mas aí, há 657 dias, eu fiquei em pé numa prancha e as coisas mudaram. Resolvi deixar para trás quem quer que eu fosse fora da água e passei a perseguir alguém que vive dentro dela.
Já procurei esse alguém na Barra da Tijuca, em Camburi, no Guarujá, em Mancora (Peru), na Nova Zelândia e na Costa Rica – e na Costa Rica eu encontrei com ele algumas vezes, por rápidos minutos. Olhando as fotos da viagem eu vejo que o cara malandramente se colocou no meio da galera e saiu como se fosse eu. Mas não era. Eu sou branquelo, tenho menos cabelo e tenho a expressão preocupada.
Um dia eu estava com todo mundo dentro da água. Saí para cagar e o tal cara voltou com o meu Fun Board. Ele dropou duas ondas na sequência, recebeu os cumprimentos e saiu da água. Eu ouvi o Goda, o Gugu, toda a galera comentar: Mandou bem, porra, no pico, mó currrrvão. Eu fingi que entendia, fingi que estava agradecido, mas não era eu. Era ele. Eu sou o o que fica sentado aqui, que não sabe remar direito, que olha a previsão das ondas a cada 15 minutos e só consegue surfar uma, duas vezes por semana.
Já o cara é mais jovem, mais leve. Ele não se estressa com nada, porque entendeu que o mar é feito de milhares de moléculas de água que sacolejam com a passagem de energia durante milhares de quilômetros e de repente se alinham para a esquerda ou para a direita e permitem alguns segundos de uma sensação de vitória que nenhum orgasmo, nenhuma Copa do Mundo podem igualar. E também entendeu que só isso importa, azar do resto. Eu? Eu acho foda de tão difícil.
Leio sempre o seu blog, mas o que eu sei? O outro, que surfa, poderia opinar que o Bruce Irons tirar a camiseta e dar para o Mineirinho – ao contrário do que disse o pessoal do Sportv – foi uma demonstração de respeito, admissão de derrota, e por isso, de grandeza. Mas eu achei uma puta babaquice, talvez porque além de não surfar nada, ainda por cima não entendo nada de campeonatos de surf.
E agora vem esse seu email. Como disse, olho sempre o blog, porque acho que você escreve muito bem. Enfraquece às vezes, quando caga umas regritas, e está demorando cada vez mais para abrir com tantos penduricalhos que você coloca. Mas virou um hábito delicioso acessar Chasing The Lotus todos os dias. Tanto que eu já apareci lá, com um comentário sobre um livro de surf que só eu li (mal aí, Carlinhos, mas o primeiro a colaborar fui eu). Noves fora, o fato é que fiquei sem entender porque estou no meio dessa galera toda, esse crowd de bons surfistas, Mentawaiians, bintangueiros e tudo mais. Você sabe que eu não conheço todos os caras, eles não me conhecem, eu não tenho nada para acrescentar sobre vídeos, músicas e, mais uma vez, campeonatos. Por que será que você me botou na lista, se eu não estou nessa barca?
Aí me ocorreu que você tem o meu email, mas não tem o do outro eu. Se tivesse, tinha mandado para ele.
J
7.18.2007
7.17.2007
Novo Filme de Thomas Campbell
Isso mesmo, você não leu errado. Thomas Campbell, diretor de The Seedling e Sprout, dois dos mais aclamados filmes de surfe dos últimos tempos, está montando seu novo longa: The Present. Tudo o que esse cara faz é foda e as imagens dessa recente empreitada não poderiam deixar de ser incríveis. Como nos dois primeiros filmes dele, a producão ficou a cargo da Woodshed Films, a mesma de A Broke Down Melody, Shelter, The September Sessions e Thicker Than Water. O lançamento está previsto para o verão de 2008 nos E.U.A.. O Chasing, largando na frente, encontrou na web um trailer que já dá uma prévia do que parece ser um filmaço. Não seja trouxa e assista.
Mais sobre J-Bay
Essa dica é do Carlinhos Toledo. Para quem quiser saber mais sobre J-Bay vale procurar o livro Surfline |VOLUME 1 J-BAY LIMITED EDITION. Mas fica ligado que o própio nome já diz: edição limitada.
WCT – Jeffreys Bay, Africa do Sul – 11 a 22 de julho de 2007
POR CARLOS TOLEDO
Comparando:
No correr nas ondas, Jeffreys Bay, ou J-Bay, pode ser comparada a um dos templos sagrados do automobilismo: o Autódromo de Monza. As retas longas, aceleração, derrapadas, curvas de alta, de baixa e as batidas fazem essa onda ser considerada um circuito perfeito, veloz e de grandes emoções. Sem esquecer dos tubos, que a imaginação compararia às ultrapassagens da Fórmula 1. Não há vitória sem os tubos de J-Bay. São eles que garantem a ela o título de umas melhores direitas do planeta.
Analisando (no momento já estamos no final do round 3):
Quinta etapa, o ranking com Eugenio na frente, Damião depois, mas carta fora nessa etapa (já perdeu), Irons chegando, Taj perto, Joel também e o Kelly Slater em sexto. Todos esses 5 surfando de frente e muito. Meu favorito é o Octopus, que já venceu 3 vezes lá em outros anos e deve estar com a mesma vontade do Eugenio, que defende o título, e do Irons, que já venceu em outro ano. Esses dois estão com a faca entre os dentes.
Mas quem viu Occy em 84 com apenas 18 anos desenhar com as quilhas e bordas em J-Bay - uma pintura - vencendo nomes de pesos da época e redesenhando o cenário do surfe mundial não descartaria os goofys. Martinez é meu favorito de costas nessa etapa.
Dos brasileiros, sobraram Dorneles e Mineiro e são favoritos também. Acredito que Mineiro, se fizer a linha, vai longe, junto com Dorneles, que se encaixa bem no expresso.
Abaixo, na falta das imagens de Occy em 1984, segue trailer de seu documentário.
Comparando:
No correr nas ondas, Jeffreys Bay, ou J-Bay, pode ser comparada a um dos templos sagrados do automobilismo: o Autódromo de Monza. As retas longas, aceleração, derrapadas, curvas de alta, de baixa e as batidas fazem essa onda ser considerada um circuito perfeito, veloz e de grandes emoções. Sem esquecer dos tubos, que a imaginação compararia às ultrapassagens da Fórmula 1. Não há vitória sem os tubos de J-Bay. São eles que garantem a ela o título de umas melhores direitas do planeta.
Analisando (no momento já estamos no final do round 3):
Quinta etapa, o ranking com Eugenio na frente, Damião depois, mas carta fora nessa etapa (já perdeu), Irons chegando, Taj perto, Joel também e o Kelly Slater em sexto. Todos esses 5 surfando de frente e muito. Meu favorito é o Octopus, que já venceu 3 vezes lá em outros anos e deve estar com a mesma vontade do Eugenio, que defende o título, e do Irons, que já venceu em outro ano. Esses dois estão com a faca entre os dentes.
Mas quem viu Occy em 84 com apenas 18 anos desenhar com as quilhas e bordas em J-Bay - uma pintura - vencendo nomes de pesos da época e redesenhando o cenário do surfe mundial não descartaria os goofys. Martinez é meu favorito de costas nessa etapa.
Dos brasileiros, sobraram Dorneles e Mineiro e são favoritos também. Acredito que Mineiro, se fizer a linha, vai longe, junto com Dorneles, que se encaixa bem no expresso.
Abaixo, na falta das imagens de Occy em 1984, segue trailer de seu documentário.
7.16.2007
A vida a caminho do Guarujá
Abri o olho devagar. Eu já tinha acordado há algum tempo e esse processo não passou de uma negociacão racional entre eu e minhas pupilas. Fui deixando a luz entrar, desenhando na retina, pouco a pouco, os espaços do quarto, os spots de luz do teto, a cor do edredon, a TV desligada virada na minha direção e as frestas da janela. O nariz acordou depois e ajudou os olhos a encontrarem na cama, pelo perfume, a menina que dormiu comigo. A presença dela, o cansaço fruto da semana exigente e da noitada de sexta-feira foram se misturando na elaboração da desculpa para não ir surfar. Desculpa para convencer apenas a mim mesmo, afinal, já era uma hora da tarde e se meus amigos tivessem ido para a praia, já estariam n'água há muito tempo. Um rabicho de sono, esquecido em algum canto, me alcançou enquanto eu rolava para o lado, enfiando meu nariz entre os cabelos dela para me esconder da responsabilidade e dividir, assim, a culpa pela preguiça.
Mas, não. O surfe muda tudo e depois dele eu nunca mais consegui ficar na cama num sábado. Nessa tarde não seria diferente e após uma hora, gasta entre tomar café, prender prancha no teto do carro e buscar biquini, estávamos os dois, na estrada, conversando sobre a vida a caminho do Guarujá. O papo ajudou o tempo a passar e, enquanto a ouvia falar sobre bebedeiras e outras estórias, com o canto do olho vi o sol baixar cada vez mais rápido, me obrigando a fazer as contas de quanto tempo de surfe eu teria até que a luz acabasse: uma hora, um pouco mais se tivesse sorte.
Foi a primeira vez que caí no Tombo num final de tarde. A praia é virada para o sul, o que faz com que o sol se ponha no continente, bem atrás da areia. A cada onda que vinha eu me virava e, remando para o drop, dava de cara com o alaranjado e magenta das últimas luzes do dia. O mar estava bom e todos que estavam dentro d'água teimavam em deixá-lo. A visibilidade foi piorando muito graças à chegada da noite e de uma bruma que veio de longe, avançou pela areia, ruas e prédios, deixando tudo um pouco embaçado e grudento. Olhei para a praia tentando ver a menina que, mal iluminada pelas poucas luzes vindas dos bares na calçada, desaparecia entre a maresia e o breu. Quando estava para sair d'água, veio uma ótima onda. Era para ser a última, mas, de tão boa, me fez querer mais outra e me obriguei a remar de volta para dentro do mar escuro. Cheguei na areia uns vinte minutos depois e apesar dela estar lá me esperando, alguma coisa tinha acontecido entre nós. Ou deixado de acontecer, vai entender. Mas fato é que, depois desse sábado, achamos melhor nos despedirmos um do outro. Justo que tenha sido assim. Acredito que ambos saímos dali com um frame na memória: há algum tempo a bruma tinha entrado no nosso curto relacionamento e a imagem dela, desaparecendo sentada na areia, me pareceu um sinal. Talvez para ela, eu, remando para o outside naquela tarde, também tenha sido revelador de alguma forma.
7.15.2007
Thalia
Em Laguna Beach tem uma loja de surf que vale a visita: é a Thalia Street Surf Shop. Lá você vai encontrar um tipo de produto que não encontra nas outras lojas, produtos com alma. Roupas e estampas desenhadas por vários artistas/surfistas de peso, como Thomas Campbell e Andy Davis (foto), quilhas, pranchas da Sea Surfboards e roupas de borrachada O'neill no estilo anos 70. Clássico.
7.11.2007
"Estou na água, boiando. Do meu lado um garotinho de no máximo oito anos num longboard gigantesco passa rasgando, impulsionado por um empurrão de seu pai. Assim que ele se sente carregado pela onda, se levanta e fica de pé na prancha. Ao tentar se equilibrar, ele murmura, "Nossa! Nossa!!! Uau!!!" e ri, no auge da adrenalina por estar surfando. Escuto um amigo do pai orgulhoso comentar:
"Você acabou de acabar com qualquer possibilidade dele um dia se tornar presidente".
Trecho do livro Caught Inside: A Surfer's Year on the California Coast, enviado ao Chasing pelo amigo Gustavo Soares.
7.10.2007
The Thread
Não é toda hora que se encontra um fotógrafo de surf com um olhar original. E não é sempre que um estrante tem a chance de ser lancado aos olhos do mundo por ninguém menos que Jeff Divine, uma lenda viva por trás das lentes que registraram o esporte nos ultimos 30 anos. Estou falando de Patrick Trefz, californiano que acaba de lançar na América do Norte, seu primeiro filme: The Thread.
O casting reunido por Trefz é de primeira: Joel Turdor surfando em Biarritz, Taylor Knox shapeando uma Bonzer, Joe Curren em Sandpit e Tom Carrol em Teahupoo. Todos sob a premissa de Trefz em mostrar os estilos particulares de cada um deles sobre as ondas ou calçadas. Isso mesmo, tem skate também. Tem até uma sessão com Duncan Campbell, pai da triquilha. Ao comentar seu trabalho, ele dá uma pista do estado de espírito de suas imagens:
"For as mainstream as surfing has become, it's still esoteric. The whole concept of surfing is pretty out of the ordinary in terms of human experience."
7.09.2007
Drive-Thru
Saí da agência correndo, deixando para trás alguns assuntos abertos. 21h30 da noite, preciso viver e o trabalho pode esperar. Pego o carro, pego a prancha, pego dois amigos que já me esperavam ansiosos e pegamos a estrada, sentido litoral. Na quarta-feira, São Paulo está em pleno vapor, longe, ainda, da calma que o final-de-semana traz e das filas de carros que, numa sexta-feira à noite qualquer, seguiriam na mesma direção que estávamos indo. Mas ainda é quarta, tenho que trabalhar amanhã e dirigir para praia numa situação dessas me faz sentir meio criminoso, indomável e tristemente desesperado.
A noite está limpa e na mesma estrada, se acumulando no pedágio, para depois se dispersarem pelas saídas da rodovia, milhares de automóveis com trabalhadores voltando para casa, provavelmente cansados, pensando no desconforto de morar longe e na recompensa de dormirem e acordarem, diariamente, próximos a uma praia, uma floresta ou numa rua mais segura. Desistimos de tentar ouvir no rádio o jogo da selecão e focamos nossos assuntos nas previsões metereológicas para o dia seguinte e na razão de os três estarmos ali, ansiosos, ainda com as roupas amaçadas do trabalho: o surf.
Todo final de semana é a mesma coisa. Acordar cedo, dirigir pela estrada, surfar até ficarmos esgotados, estrada novamente, sentido contrário, de volta para a cidade, aproveitando a vista e o sentimento de vitória contra a estagnação, o conformismo e a morte. Muitas vezes desço sozinho, ouvindo um som que acabei de conhecer ou uma banda que já me deixava saudade. Quando chego no meu destino, caio no mar e agradeço por estar vivo e boiando no oceano. Mesmo dividindo o line up com desconhecidos, surfar sozinho te leva a um momento de instropecção e paz, e, na volta pela serra, cercado por mata atlântica, dirigir nem é tão penoso quanto poderia parecer. Eu desceria para o litoral sozinho, quantas vezes fosse necessário, para poder surfar. Não me dói. A razão para sempre fazer isso com amigos é outra.
Nessa quarta-feira, pegamos a estrada, fomos parados pelo guarda-rodoviário, jantamos num drive-thru do Mc'donalds, dormimos em beliches que nos fizeram demorar a pegar no sono, acordamos ainda escuro, surfamos sem tomar café, saímos correndo do mar, trocamos de roupa na calçada da praia, sem banho, entramos no carro e, novamente pela estrada, cortamos caminhões, atravessamos o pedágio, costuramos pelas ruas da entrada da cidade um caminho que fugisse do trânsito e aceleramos em direção a alguma reunião que nos esperava na volta. Os três chegaram às suas cadeiras antes que a mesmice se desse conta. Nos achando especiais por tanta determinação e por acreditarmos, piamente, que a vida é um pouco mais que trabalhar e um pouco menos que qualquer outro plano ambicioso que não seja surfar. É nessa hora que os amigos fazem a diferença. É neles que vejo, espelhada, a minha satisfação.
A noite está limpa e na mesma estrada, se acumulando no pedágio, para depois se dispersarem pelas saídas da rodovia, milhares de automóveis com trabalhadores voltando para casa, provavelmente cansados, pensando no desconforto de morar longe e na recompensa de dormirem e acordarem, diariamente, próximos a uma praia, uma floresta ou numa rua mais segura. Desistimos de tentar ouvir no rádio o jogo da selecão e focamos nossos assuntos nas previsões metereológicas para o dia seguinte e na razão de os três estarmos ali, ansiosos, ainda com as roupas amaçadas do trabalho: o surf.
Todo final de semana é a mesma coisa. Acordar cedo, dirigir pela estrada, surfar até ficarmos esgotados, estrada novamente, sentido contrário, de volta para a cidade, aproveitando a vista e o sentimento de vitória contra a estagnação, o conformismo e a morte. Muitas vezes desço sozinho, ouvindo um som que acabei de conhecer ou uma banda que já me deixava saudade. Quando chego no meu destino, caio no mar e agradeço por estar vivo e boiando no oceano. Mesmo dividindo o line up com desconhecidos, surfar sozinho te leva a um momento de instropecção e paz, e, na volta pela serra, cercado por mata atlântica, dirigir nem é tão penoso quanto poderia parecer. Eu desceria para o litoral sozinho, quantas vezes fosse necessário, para poder surfar. Não me dói. A razão para sempre fazer isso com amigos é outra.
Nessa quarta-feira, pegamos a estrada, fomos parados pelo guarda-rodoviário, jantamos num drive-thru do Mc'donalds, dormimos em beliches que nos fizeram demorar a pegar no sono, acordamos ainda escuro, surfamos sem tomar café, saímos correndo do mar, trocamos de roupa na calçada da praia, sem banho, entramos no carro e, novamente pela estrada, cortamos caminhões, atravessamos o pedágio, costuramos pelas ruas da entrada da cidade um caminho que fugisse do trânsito e aceleramos em direção a alguma reunião que nos esperava na volta. Os três chegaram às suas cadeiras antes que a mesmice se desse conta. Nos achando especiais por tanta determinação e por acreditarmos, piamente, que a vida é um pouco mais que trabalhar e um pouco menos que qualquer outro plano ambicioso que não seja surfar. É nessa hora que os amigos fazem a diferença. É neles que vejo, espelhada, a minha satisfação.
7.08.2007
Clap, clap, clip
Essé é o clipe para uma das músicas do Arcade Fire.
Foi todo feito com imagens do filme Once Upon a time in The West,
de Sergio Leone, cineasta italiano.
Foi todo feito com imagens do filme Once Upon a time in The West,
de Sergio Leone, cineasta italiano.
7.07.2007
Quando o bom moço subiu no telhado
Quem assistiu DogTown & The Z Boys, documentário dirigido pela lenda do skate, e também empresário, Stacey Peralta, deve ter se assombrado. Eu me assombrei e nem skatista sou (Até me arrisco a andar com um long da Sector 9 nos finais de semana.). Aquela me parecia a primeira vez na história que um esporte moderno, autênticamente surgido junto a um tipo de movimento comportamental, considerado extremo por muitos, ganhava autoridade o suficiente para refletir de maneira tão profunda sobre si mesmo. Era como se eu visse uma tradição surgir na frente dos meus olhos.
DogTown descreveu o surgimento do skate como esporte e contracultura, mas nos deixou ainda muito longe daquilo que sua moda, som e linguagem se tornariam nos dias de hoje. Para preencher essa lacuna, vem aí o documentário The Man Who Souled the World, sobre Steve Rocco, o homem que inventou o movimento urbano.
Steve era um freestyle sk8er partocinado pela Sims Skateboarding até o ano de 1988, quando foi afastado e decidiu abrir sua própria marca, a World Industries, um coletivo formado por vários skatistas que elevou os shapes e o comportamento de sua geração a um novo degrau. Seus produtos e vídeos estimulavam a irreverência e liberdade de expressão, muitas vezes cruzando o limite da violência, pornografia e uso de drogas. Nunca o mundo tinha visto nada igual e o própio Rocco nos ajuda a compreender suas razões: "Nós estávamos testando os limites de coisas qua jamais tinham sido feitas. E por que não? Na verdade, sinto como se tivéssemos a obrigação de fazê-lo."
Mas como se define movimento urbano? O que é sreet art, ou street wear, music ou o sei lá quê?
Mesmo os especialistas no assunto têm dificulde em definir. A unanimidade, no entanto, parece vir da característica, facilmente identificável, de que é aquilo que possui uma certa autênticidade e relevância para pequenos grupos ligados a uma rua ou bairro de uma cidade, sempre ascessível ao bolso precisa ser, obrigatóriamente, prático ou funcional. Algo que têm sua existência negada, no princípio, pelo privado ou o estabilishment. E tudo isso, Rocco tinha de sobra. Em vídeos que romperam com tudo o que se vira até então, Rocco e sua turma aparecem quebrando coisas, se arriscando, pela primeira vez na mídia, sobre corrimões, calçadas e mobiliários urbanos em seus skates. No áudio, os gritos dos amigos e camera men, registrando, com a irreverência e tom desafiador que lhês é único, a revolução que iria atrair a atenção do mundo e, principalmente, de seus jovens. Suas manifestações anteciparam muito do carácter contributivo e do cruzamento de talentos que só a internet veio provar ser possível anos depois. No mundo desenhado por Rocco, vídeo makers, músicos, artistas gráficos, grafiteiros e djs que conviviam espremidos, no pedaço de chão que lhes cabia, a calçada e o beco, ultrapassam todos os limites. Com a chegada dessa turma, o bom-moço morreu.
Abaixo dois traillers que antecipam o lançamento que virá em agosto de 2007 nos E.U.A., sendo o primeiro absolutamente genial.
7.06.2007
7.05.2007
Shaper: Dain Thomas
A Seasurfboards é uma mistura de galeria de arte, loja de surf, de cd's e fábrica de pranchas. Seu idealizador é Dain Thomas, shaper de surfistas que misturam o esporte a expressões artísticas, entre eles, Thomas Campbell, diretor de Sprout, filme de surf obrigatório em qualquer coleção.
7.04.2007
No Mapa
Sem um mapa não se sai do lugar, não se conquista outros países, não nos aventuramos para além dos muros de nossas cidades. Governantes e imperadores sempre souberam disso e a compra e o roubo de mapas, bem como o envio de cartólogos em missões distantes, muitas vezes suicidas, sempre tiveram valor para eles e justificaram boas somas de dinheiro recolhidos em impostos. Viajar, portanto, é resultado da riqueza. Quanto mais rico, mais longe se pode ir, e, no sentido contrário, quanto mais pobre, mais isolada e restrita a vida. Na pobreza, o mundo se torna uma poça, resquício de um grande lago que secou, onde boiam peixes achando que sua casa é o mar e não seu túmulo.
Um fenômeno na internet está a caminho de erguer o maior testemunho de amor da humanidade ao planeta onde vivemos: o Google Earth e o Google Maps estão construindo o mais detalhado relatório sobre a superfície da terra, traçando não só os presentes geográficos, caóticos e espontâneos, que herdamos da natureza mas, também, nossas pegadas e construções; a engenharia humana, a nossa teia, os insetos que ali prendemos e os contornos que estavam aqui antes de chegarmos e que ainda estarão quando não mais existirmos. Do Grand Canyon a Manhattan, das Ilhas Mentawai a Pequim, da Baía de Guanabara a Vigário Geral.
Vigário Geral já foi o limite do Estado da Guanabara, quando o Rio de Janeiro ainda era a capital do país, que acabava, ali, na região por onde passava a antiga estrada Rio-Petrópolis, no mesmo ponto em que, muito tempo antes, na época da colonização, funcionava o Engenho de Vigário Geral, sobre o solo pantanoso sobre o qual a Família Real construiu a estrada de ferro que iria servi-lhes. Mobilidade é riqueza, e se a região que abriga o complexo Geral já foi passagem e caminho para cargas, viajantes e a borda da capital, hoje é seu centro, seu núcleo, palco dos dramas mais essenciais do nosso país, ferida aberta da pobreza e do castigo sentenciado a nós por nós mesmos. É em Vigário Geral, onde vivem cerca de 35.000 habitantes, que os Médicos Sem Fronteiras - ONG que têm sua imagem e razão de existir associada a palcos de guerra e tragédias humanitárias - atuam ao lado do AfroReggae, movimento cultural formado por jovens saídos do tráfico, um dos motores econômicos da comunidade junto com a Duloren Internacional e a Metalúrgica Moldenox, que também estão sediadas ali. Para quem nasce em Vigáriol Geral, mobilidade é um problema. O morador dali não pode ir à Parada de Lucas, bairro vizinho de porta, com o qual Vigário possui uma rixa sangrenta, tanto por motivos mercadológicos, o tráfico de drogas, quanto por razões que os próprios moradores desconhecem ou apenas ouviram alguém mais velho repetir, como o caso do jogo de futebol entre times das duas localidades, terminado num penalti que o goleiro de um dos times agarrou, apesar das ameaças de traficantes vizinhos, caindo abraçado com a bola e com uma bala mortal na cabeça. Ali, como em qualquer bairro pobre do Brasil, não se caminha em certos horários ou quando a polícia chega. Sem dinheiro, raramente se volta para a cidade natal, no caso de quem imigrou, e, muito menos, se viaja de férias para lugares distantes. Assistindo a um vídeo sobre o AfroReggae, ouvi da boca de uma menina, bailarina do grupo, que graças ao seu ingresso nele, já viajou para a Holanda uma vez e outras quatro vezes para São Paulo. Disse isso de maneira desiquilibrada, dando mais ênfase ao número que as localidades, mas sorrindo muito.
São Paulo e Holanda estão no Google Maps. Graças a natureza da web e à visão de seus idealizadores, qualquer pessoa no mundo, com acesso a internet, pode contribuir na construção desse legado. Eu posso colocar uma foto minha para quem quiser saber como é Mentawai ou o Guarujá, e um holandês marcar sobre o mapa de sua rua um restaurante que faz o melhor macarrão do bairro. A bailarina pode apontar por onde viajou, a casa em que nasceu e, se ela souber, onde o tal goleiro salvador do jogo de futebol lendário morreu. Estarão todos no mapa, não tem como desviar.
7.03.2007
Quilhas - História ( Conclusão )
A história reserva um lugar especial para aqueles que, por visão ou decisão, abraçam causas e levantam bandeiras. Na correria do tempo e de seus registros, ficam para trás os cacos, os espasmos e aqueles que, por incerteza, titubearam ou não gritaram alto o suficiente. O ensinamento para quem chega é que se você não alardear e não acreditar na autoria de um invento, ou numa nova maneira de pensar, o crédito por sua participação pode escorrer pelos seus dedos. Talvez tenha sido isso que aconteceu com os irmãos Campbell, no caso da invenção da triquilha. Mas fato é que, dez anos depois, Simmon Anderson tomou para si essa nova visão e a elevou até um novo degrau. Hoje, a Thruster dele, mais que a Bonzer dos Campbell, se tornou o padrão vigente. Tanto por sua determinação em difundir a idéia, sendo obrigado a conquistar 3 etapas do WCT com sua prancha até ser levado a sério, uma delas em pleno Havaí, como pelos aperfeiçoamentos que fez nessas triquilhas, trazendo-as próximo ao estágio que conhecemos hoje.
Enquanto pesquisava a história das quilhas para o Chasing The Lotus, por sugestão de Rodrigo Amado, ex-shaper e surfista amigo, me deparei com uma matéria escrita por Ricardo Bocão, um dos maiores surfistas brasileiros de todos os tempos, conhecido por seu pioneirismo e determinação em surfar águas internacionais quando pouquíssimos brasileiros faziam isso, escrita para a Fluir. Nela, Bocão reclama para si a invenção da quadriquilha, dois anos antes de Glen Minami, shaper do North Shore havaiano, e Marttin Potter, surfista inglês campeão mundial em 1989, surgirem com um modelo parecido. Segundo Bocão, ele chegou na idéia de sua quad observando, lado a lado, uma biquilha e uma outra triquilha, provavelmente umas das primeiras a aterrizar em solo brasileiro, no final dos anos 70. Inspirado, foi para a oficina e meses depois estava no Havaí mostrando seu invento para Shaun Tomson, Randy Rarick e Aaron Chang, que o fotografou ao lado seu quiver. Fato é que o mundo estava de cabeça para baixo com tantas inovações no desenho de pranchas e a revista Surfing, três meses depois, estampou uma foto de Bocão e suas quilhas com o comentário de que o sucesso de Simon Anderson permitira, enfim, todo o tipo de experimentalismo. Injusto, com certeza, mas resultado de uma época e da determinação de alguns. Se Bocão tivesse vencido no Havaí e em Bell's com seu invento, como fez Simmons, talvez a história fosse outra, mas, isso, de maneira nenhuma, tira o mérito dele por experimentar e refletir sobre seu equipamento e a prática do surfe, nem por suas inúmeras conquistas no esporte.
Procurei muito na web a não tão famosa foto de Bocão que teria sido publicada na Surfing. Não encontrei, uma pena. Sem poder homenageá-lo, publico então uma foto do Rodrigo Amado, que me ajudou na conclusão desse capítulo. Nela, Rodrigo, ainda novo, tieta Mark Richard's, que fez por merecer. Depois, um vídeo com a entrevista de Simmons e suas ondas em Bell's e Pipeline, em 1980 e 81 respectivamente.
PS Alguns surfistas de tow in estão começando a resgatar um formato de quilha desenvolvido por Cheyne Horan em 1980: a Starfin (Também conhecida por Winged Keel.). Prova de que o experimentalismo continua sendo a principal força evolucionária no surf.
Enquanto pesquisava a história das quilhas para o Chasing The Lotus, por sugestão de Rodrigo Amado, ex-shaper e surfista amigo, me deparei com uma matéria escrita por Ricardo Bocão, um dos maiores surfistas brasileiros de todos os tempos, conhecido por seu pioneirismo e determinação em surfar águas internacionais quando pouquíssimos brasileiros faziam isso, escrita para a Fluir. Nela, Bocão reclama para si a invenção da quadriquilha, dois anos antes de Glen Minami, shaper do North Shore havaiano, e Marttin Potter, surfista inglês campeão mundial em 1989, surgirem com um modelo parecido. Segundo Bocão, ele chegou na idéia de sua quad observando, lado a lado, uma biquilha e uma outra triquilha, provavelmente umas das primeiras a aterrizar em solo brasileiro, no final dos anos 70. Inspirado, foi para a oficina e meses depois estava no Havaí mostrando seu invento para Shaun Tomson, Randy Rarick e Aaron Chang, que o fotografou ao lado seu quiver. Fato é que o mundo estava de cabeça para baixo com tantas inovações no desenho de pranchas e a revista Surfing, três meses depois, estampou uma foto de Bocão e suas quilhas com o comentário de que o sucesso de Simon Anderson permitira, enfim, todo o tipo de experimentalismo. Injusto, com certeza, mas resultado de uma época e da determinação de alguns. Se Bocão tivesse vencido no Havaí e em Bell's com seu invento, como fez Simmons, talvez a história fosse outra, mas, isso, de maneira nenhuma, tira o mérito dele por experimentar e refletir sobre seu equipamento e a prática do surfe, nem por suas inúmeras conquistas no esporte.
Procurei muito na web a não tão famosa foto de Bocão que teria sido publicada na Surfing. Não encontrei, uma pena. Sem poder homenageá-lo, publico então uma foto do Rodrigo Amado, que me ajudou na conclusão desse capítulo. Nela, Rodrigo, ainda novo, tieta Mark Richard's, que fez por merecer. Depois, um vídeo com a entrevista de Simmons e suas ondas em Bell's e Pipeline, em 1980 e 81 respectivamente.
PS Alguns surfistas de tow in estão começando a resgatar um formato de quilha desenvolvido por Cheyne Horan em 1980: a Starfin (Também conhecida por Winged Keel.). Prova de que o experimentalismo continua sendo a principal força evolucionária no surf.
7.01.2007
Quilhas - História ( Parte II )
Os Campbell
Os anos 70 foram considerados os anos dourados na evolução das quilhas e no design de pranchas. O australiano Nat Young começou a revolução alguns anos antes com o uso progressivo de pranchas menores e quilhas adaptadas para uma nova maneira de se surfar as ondas, com cavadas e as mudanças de borda antes nunca permitidas pelas antigas SKEGS, sem curva e razas demais. Mark Richards deu prosseguimento ao avanços, permitindo que nos anos 80 se chegasse a configuração de 3 quilhas, utilizada amplamente ao redor do mundo até os dias atuais. Foi o big rider australiano Simon Anderson, que desapontado com a performance das biquilhas difundidas por Richards, quem chegou nesse novo desenho, batizado por ele como Thruster e encontrado hoje em qualquer lugar do mundo. A Thruster abriu as portas para o surfe com rasgadas mais críticas e batidas capazes de espalhar jatos d'água muito acima da linha das ondas. No entanto, o crédito pelo surgimento da triquilha é polêmico.
Muito antes, ainda nos anos 70, os irmãos Duncan e Malcom Campbell, deparados com as mesmas limitações de Simmons com as biquilhas em ondas maiores e pesadas, foram os primeiros a desenhar uma prancha com 3 quilhas, denominadas por eles de Bonzer. Mas, por não serem surfistas profissionais, só puderam ver sua descoberta ser aceita pelo mainstream do surfe mundial muito tempo depois e pela mão de terceiros, um presságio de como a recém surgida indústria e mídia do surfe começariam a ditar as prioridades e eleger seus própios heróis. Empolgados pela confirmação de seu pioneirismo, os dois desenharam em 1982 a primeira Bonzer com 5 quilhas que, nos anos 90, graças a aceitação e difusão por parte de surfistas de nível internacional, entre eles Rob Machado, Taylor Knox, Donavon Frankenreiter e Joel Tudor, passou a ser levada a sério e suas ter suas qualidades reconhecidas. Tamanha a aceitação desse modelo que, hoje, ao falar o nome Bonzer, automaticamente associamos a 5 quilhas, esquecendo do primeiro formato e diminuindo um dos momentos de maior pioneirismo e independência na história recente do esporte.
O que a história de quilhas vem provar é que sua tecnolgia e conhecimento são frutos de tentativa e erro, e a melhora da performance resultado da simbiose entre as quilhas e o desenho das pranchas. Hoje, muito mais que direcionar o surfista na linha da onda, as quilhas, sejam single, bi, tri quad ou cinco, tornaram-se reponsáveis pelo avanço na técnica e na maneira de pensar o surfe, resultando numa história que ainda não parece ter chegado ao fim. Enquanto fecho esse artigo, a edição de agosto da Surfing americana traz duas matérias bastante reveladoras. Num deles, Dave Rastovich, free surfer neozelandês, reconhecido por seu experimentalismo, descreve as inovações de sua prancha e de suas quilhas, ambas baseadas numa antiga prancha utilizada por seu pai em 1980. Noutro, a revista destaca a vitória de CJ Hobgood, surfista americano, na etapa do WQS de Trestles, CA. Com o mar pequeno, Hobgood garantiu o primeiro lugar no pódio surfando com uma quadriquilha rabeta em V. Como tinha experimentado essa mesma prancha apenas uma vez antes, ele, em entrevista, sequer soube como denominar o novo equipamento, passando a responsabilidade para seu shaper, Bill Johnson.
Como o desenvolvimento de quilhas está intimamente ligado ao surgimento de novos conceitos no design das pranchas, muitas novidades prometem surgir. O encerramento das atividades da Clark Foam, principal fabricante de blocos no mundo, abrirá as portas para novos materiais e desenhos, e, graças a isso, quem sabe, em algum lugar do mundo, dois novos irmãos Campbell já tenham desenvolvido a prancha que você, eu e nossos filhos iremos surfar um dia. Continua.
No próximo artigo escreverei sobre os fundamentos no desenho da quilha. Abaixo, dois vídeos: o primeiro, um curta sobre a Bonzer e seus inventores. Noutro, a final de Trestles com Hobgood e sua quadriquilha. Vale assistir.
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