6.25.2007

Remando ( PAVONES - PARTE II )


Ao contrário da maioria dos dias que ficamos na Costa Rica, a nossa chegada em Pavones foi presenteada com o sol. Era começo de junho e essa nossa primeira experiência no país nos ensinou que a tradicional temporada de chuvas, que tem maio e junho como ápice, deve ser levada a sério. Além do sol, um swell de 5 feet apinhou o line up de cabeças e esgotou a oferta de quartos que o pequeno pueblo tinha para oferecer nos dias que seguiram.
Eu e Marquinhos estávamos ansiosos para cair na água e foi o que fizemos, assim que garantimos nossas instalações para os nossos próximos 5 dias em Pavones. O primeiro obstáculo foi decidir onde surfar. Como a onda lá é longa e mal conseguíamos enxergar o pico, que quebrava um pouco longe, escolhemos seguir a pequena crowd que dividia a terceira sessão. Tinha de tudo, israelenses, brasileiros, americanos, longboards, kneeboards e bodyboards. Alguns determinados a se manter naquela altura da onda, surfando o trecho e voltando remando em seguida para esperar o próxima. Muitos outros, no entanto, surfavam sessão atrás de sessão até serem cuspidos da água, e da onda, que acabava pequena, amigável, mas ainda rápida, dentro de uma pequena baía onde vi, descansando na areia, os únicos barcos daquele lugar. O fundo da praia se misturava ao fundo do rio, ambos formados por milhares de pedras redondas, polidas e escuras, restos de vulcões despejados no mar e por ele trabalhados até adquirir esse formato. A saída para quem decidia surfar a onda assim, pedaço a pedaço, era voltar andando por essas pedras, evitando assim a corrente do rio e do mar que, juntos, dificultavam muito a remada.
Logo na chegada conheci um longboarder brasileiro, de Floripa, que estava ali com um grupo grande do sul. Foram deles a dica, dias depois, para que eu e Marquinhos conhecêssemos um cidade perto dali, na fronteira com o Panamá, onde encontraríamos muita roupa e eletrônicos baratos. Fiquei assistindo um tempo ele surfar para que tivesse algum tipo de parâmetro e o vi pegar boas ondas. Logo percebi que, ali, tudo acontecia muito rápido e de duas maneiras: ou a série entrava um pouco mais para dentro do Golfito, abrindo assim uma onda maior para quem estava na altura onde quebram a segunda ou terceira sessões, até mesmo possibilitando um direira para quem estava mais para dentro do pico, ou vinha mais fechada, lambendo as rochas das prainhas que ficavam mais ao sul, possibilitando uma onda mais longa, mais aberta, sendo dropada em sua extensão por vários surfistas, um em cada trecho, todos acreditando que aquele que surfava antes de si não conseguiria chegar até aquela sessão sem que a onda fechasse. Na maioria das vezes era isso o que acontecia e mesmo quando o talento e a sorte ajudavam quem vinha mais de trás, a rabeada inevitável era levada na esportiva e sem gritos ou caras feias. Exatamente como deveria ser em qualquer outra onda do mundo.
Demorei até pegar a primeira, que não foi das melhores. Voltei. Boiei mais um tempo e tomei coragem.
Uma nova série subiu mais para dentro do golfo e uma onda de uns 4 ou 5 feet subiu na minha frente, sem que ninguém tivesse conseguido surfar o trecho anterior ao que eu estava. Olhei para trás e vi uma linha inteira de surfistas, ainda longe do ponto do drop, vindo remando na minha direção. A onda era minha, parte por merecimento por estar no lugar certo, parte pelo W.O. coletivo daqueles que tinham se deixado levar para longe do lugar onde ela começaria a quebrar. Não precisei remar muito e longo me vi, em velocidade, de pé, lutando para me manter no topo da onda, projentando a prancha para frente o máximo, mais rápido, me esforçando para não deixar a onda me ultrapassar. De canto de olho, meio assustado, reparo nos outros surfistas furando minha onda, mergulhando a cabeça dentro d'água com os olhos presos em mim. Pronto. Começou a funcionar. A prancha, o mar, meu corpo, tudo, mesmo que por apenas alguns segundos, falaram a mesma língua. Não tenho como descrever cada detalhe, não é assim que funciona. Na minha memória apenas uns flashes do azul, do branco da espuma, dos meus passos para o bico, a prancha andando mais rápido, de volta com os pés para a rabeta, agora sim, o bottom mais adiantado, de novo no topo, mais uma andada pro bico, os braços para cima me equilibrando, do meu lado esquerdo, para trás da onda, os surfistas olhando, a água lisa, a tranquilidade, do lado direito, a descida, o lip girando, embranquecendo, a velocidade, o brilho do sol refletido na parede da onda que vai fechar, me obrigando a andar pra trás, mas não dá tempo, o lip me derruba, giro dentro d'água, a prancha me puxa pelo leash, afundo e depois retorno à superfície. Como foi rápido, pensei depois do caldo. Porra, caralho, quero outra. Puxo a prancha, subo e toco a remar.

Um comentário:

Anônimo disse...

the glide?