9.27.2007

Marrocos. Um grand finale pro ano de 93. PARTE 1

POR CARLOS LOBO


No início de 93, trabalhava numa agência de propaganda em Sevilla quando o dono me chamou para uma conversa com final previsível, haviam perdido a maior conta da agência. Tinha uma graninha guardada e fiquei mais feliz do que preocupado. Começava então uma fase totalmente like a rolling stone na minha vida. O primeiro “compromisso” foi um Festival de Rock com Bob Dylan e John Mayall, em La Coruña. Como já estava pelo norte, resolvi passar uma temporada em Gijon na casa de conhecidos que tinham uma fábrica de pranchas em frente a uma praia de nudismo com altas ondas. Este estilo easy rider ganhou um upgrade com a compra de um velho Seat 82. Fiz umas camisetas pra vender e fui pra Cote Basque, na França, metade do tempo era camelô, a outra metade, estava dentro d’água. O negócio prosperou, virei receptador do “contrabando” que os atletas profissionais traziam do Brasil, revendia pranchas, shorts, camisas, mochilas e streps nos calçadões por onde passava o circuito do WCT e WQS. Tirei o banco do carona do carro e no espaço que ele ocupava adaptei uma cama, o porta-malas, acrescido de uma caixa de papelão e um fogareiro, virou a cozinha, e com este motorhome improvisado a saúde financeira da lojinha estava resolvida. O maior item da planilha de custos eram as cervejas na noitada. Seguindo a caravana do circuito mundial passei por Biarritz, Lacanau, Hossegor, Zarautz, na Espanha, peguei um Mundaka épico e fui parar em Portugal. Nove meses depois estava de volta a Sevilla, minha base. O que fazer? A cidade vivia a ressaca do fim da Expo 92 e uma baixa total em termos de trabalho. Uma surftrip pelo Marrocos era um sonho antigo, já tinha ido 3 vezes, mas nunca pra pegar onda, porém rolava um certo cansaço da vida de mulambo andarilho. Já estava pensando em correr seriamente atrás de trabalho quando recebi um empurrãozinho do destino. Numa tarde cinzenta, sem nada pra fazer, resolvi ir no cinema ver qualquer coisa, peguei o jornal e gostei da crítica de um filme chamado Baraka. Saí do cinema sentindo que a África estava logo ali, era só esticar o braço, e não dava pra jogar fora aquela oportunidade, não haveria segunda chance. Na tarde do dia seguinte estava em Cádiz comprando uma prancha na surfshop de um brasileiro, de lá fui direto para a estação de ferryboat em Algeciras, fiz a travessia do estreito e cheguei em Ceuta, ainda território espanhol. No dia seguinte, na hora de cruzar a fronteira encrencaram com o estado do meu carro, mas fui salvo pelo velho papo “Brésil, futebol, Romariô, Bebetô…” afinal, estava todo mundo feliz com a classificação do Marrocos pra Copa de 94.
A sensação de quem entra no Marrocos é de ter voltado no tempo mil anos. Já conhecia todas as cidades históricas e rumei direto para o pequeno vilarejo de Moulay-Bousselam, primeiro surfspot de um guia improvisado com recortes de revistas de surf espanholas. Flat total. Depois de quatro dias esperando o mar subir (ainda não havia internet) rumei para Casablanca. Estacionei em frente a um beachbreak ao lado de um minarete e fui direto pra água antes mesmo de decidir onde ficar. Havia boas ondas de um metro e somente cinco pessoas dentro d’água. Na areia contei que era brasileiro e que estava ali para surfar e dois irmãos, Jawad e Kamel, me convidaram pra “cair” na casa deles. Era um apartamento bem simples na laje de uma mesquita, em quatro quartos amontoavam-se treze pessoas, seus pais e duas irmãs com os maridos e os filhos. As cinco da manhã acordávamos com os auto-falantes a todo volume convocando os mulçumanos para a primeira das cinco orações do dia. Enquanto quase todos da casa estendiam seus tapetes para Meca partíamos para o surf. A vinte quilômetros de Casablanca tem uma onda sensacional, Dar-Bouazza, uma das únicas esquerdas do país, que quebra em três sessões sobre um fundo de pedra raso e com muitos ouriços. As semanas foram se passando, fui ficando, ajudava nas despesas da casa, levava as pessoas pra lá e pra cá no meu carro e aos poucos fui conhecendo toda a comunidade do surf. Mohamed, era comissário da Royal Moroccan, estava pra tirar férias, era o único da galera que tinha carro e teve a feliz idéia de juntar os dois carros pra fazermos uma surftrip para o sul, até a região de Agadir a 530 km de distância. A “barca” estava formada. A palavra que eu mais ouvia nos dias que antecederam a partida era “secret spot”.

9.24.2007

Swift


Em várias das surfshops divulgadas aqui no Chasing você encontrará produtos com o selo do Swift Movement. A imagem já dá a dica do que se trata. Vale um pulo para se registrar.

Eu preferia estar surfando

Quem mandou essa foto foi o camarada Gustavo Otto, do Surf4Ever. Segundo ele, encontrou a fotinho no Niceness. Muito boa.

9.19.2007

Deslizar é preciso

POR NANDO ZENARI



Nós aqui de São Paulo temos as ondas um tanto quanto inacessíveis no meio da semana, devido a distância e o tempo que passamos trabalhando e cuidando de nossas vidas. Mas o desejo de deslizar é muito grande e, assim, aproveitamos as ladeiras e pistas para matar um pouco a vontade de se locomover em cima de uma prancha.
Nesta última semana tive a oportunidade de, junto com a nata da vagabundagem da família, desfrutar de uma divertida session de skate old school em uma pista reservada só pra gente. Funs, longs e shapes reeditados, tirando onda num bowl de madeira e revestido de MDF, projetado e construido pelo Melão, o dono da Toobsland, onde se fica a pista. Vários níveis de drop, pra quem quer apavorar com flips, aéreos invertidos e rockslides, ou simplesmente mandar um carve pra matar a saudade dos movimentos do surfe.
Espetei o meu iPod no aparelho de som (sim, você faz a trilha), e andamos aos velhos tempos, com Jello Biafra, Olga, Joey Ramone e outros esgoelando-se para celebrar o momento de comunhão sobre rodas. Todos da época em que o surfe e o skate se misturavam. Quem pegava onda, andava de skate. E vice-versa.
Aí você se atira. Cai no chão, quica, pega o skate e continua. Erra, voa do carrinho, acha que é de borracha e entra no "go for it" da galera. Corpo e alma anestesiados. Gritos compartilhando os momentos. E tudo isso numa segunda-safada-chata-feira. Fez da semana já esfolada pelo feriado, ainda mais curta e passageira.
Mas como tudo tem seu preço, e ele fica cada vez mais caro conforme você vai acumulando anos, voltei pra casa com uma coleção de hematomas. Roxos de todas as tonalidades, tamanhos e volumes. Valeu a pena, mas água não machuca...

9.14.2007

Efeito Placebo


Foto: Grant Ellis

Essa semana começou como todas as outras desde quando comecei a surfar. Sentei na minha mesa no canto da sala e fui vendo, um a um, os fantasmas se acomodarem em seus lugares. Com a forma de suas bundas moldadas nos assentos das cadeiras, pareceu quase natural que passassem o resto do dia ali sem se levantarem. O organograma inteiro da empresa, da base ao topo, remando ao som dos tambores num prédio sem janelas, sem remos, sem velas e sem vista para o mar. Eu também sou um deles e se nessa segunda-feira olhei com distância para os meus companheiros de escritório, foi para disfarçar a consciência de que também teria que passar a semana inteira sentado na fôrma que moldei para mim mesmo.
Li que o desenho da face é conseqüência de sua língua natal. A pronúncia das palavras modela os músculos do rosto que acabam por definir a sua aparência. Acredito que aconteça o mesmo com as funções que temos na vida: um carpinteiro fica com cara de carpinteiro. Como posso então me sentir tão fora de lugar num ambiente onde passo de 5 a 6 dias por semana? Me levanto, atravesso o longo corredor que leva até as salas de reunião e entro no banheiro para poder me olhar no espelho e ter certeza. Estamos ali, eu e meu reflexo, nos observando como desconhecidos que se esbarram num vagão metrô.
Realizo que quem moldou minha imagem no espelho não foi esse escritório ou as salas de reunião ao lado, os envelopes que me esperam na mesa ou os emails piscando na minha caixa-postal. Meu reflexo ganhou seus contornos depois de mais um dia de surfe. Já são quase dois anos desde a primeira vez e esse final de semana não foi diferente. Foi só mais um, como na maioria das vezes, e o mar nem estava bom, como era de se esperar. Mas isso realmente importa? Claro que não. Surfe não é o remédio. Surfe é o placebo. É a capsula cheia de açúcar que você engole, sente a febre baixar e os problemas se resolverem. Volto para minha cadeira e entendo que as coisas ficaram mais fáceis. Acabaram-se os tons de cinza e a vida passou a ser irremediavelmente mais simples: preta e branca. Surfar é bom, o resto é chato. E se com essa constatação viver ficou melhor, a segunda-feira, por outro lado, tornou-se insuportável. Tão longa que seus efeitos só foram acabar nessa sexta, quando tive coragem de postar aqui os meus tormentos. Mas, tudo bem. Amanhã é sábado, dia de remédio.

9.12.2007

Eu preferia estar surfando

Todo dia, não importa a hora, somos defrontados com situações que nos fazem perceber o rídiculo de certos aspectos da vida moderna. Sem o surfe, sabe-se lá o que seria de nós. Dito isso, inauguramos a sessão "Eu preferia estar surfando". Aqui, serão postadas fotos que registrem os absurdos do dia-a-dia. Um sinal claro de que não perdemos a lucidez e, ao mesmo tempo, um manifesto do quanto preferíamos estar no mar. Contribua.

Asfalto Verde


A Habitat Skateboards é mais uma daquelas marcas que fogem da paisagem. Produtos com algodão orgânico, decks de hemp ou bambú e artistas com uma pegada diferente.

Shapers



Aqui vai a dica: dois shapers e seus blogues. O Hesssurfboards e o Custom Shapes. Vale a visita.

9.03.2007

Ouvindo - Surf Wax America


Dica do Henri Honda, lá de Lisboa.

Ladeira

POR GUY COSTA




Sou baiano e vivi em Salvador até meus 23 anos. Trabalhei na Ladeira da Barra em uma agência chamada Propeg. Saia na hora do almoço e sempre nadava em uma praia famosa de Salvador, a Porto da Barra. É um lugar incrível, de água transparente e mesmo sendo mar, parece uma piscina. Sempre imaginei enquanto nadava o quanto seria lindo se aquele lugar tivesse onda. Seria um privilégio. Então, nessa última grande ressaca que atingiu o Brasil aconteceu em um dia tudo o que sempre imaginei. Deu onda no Porto da Barra em Salvador. E não foi qualquer onda, foi uma daquelas que a gente olha e pensa o quanto seria bom estar, ou pelo menos, tentar estar ali. Entrou realmente forte e com tamanho. Infelizmente hoje eu moro aqui em SP e não pude nem tentar aproveitar essa coisa inesperada, brilhante, admirável, insuperável, prazerosa que o mar pode fazer por nós: ondas. O que me deixa feliz é que alguns abençoados puderam estar naquele momento e gravar na memória do Surf que o mar faz ondas onde ele quiser. À vida boa!