POR RICARDO REAL
Até 1982 fui paulista. Quando meu pai recebeu uma nova oportunidade de negócio, a família transferiu-se para o Rio de Janeiro, mas precisamente para um condomínio na Barra da Tijuca, que considero quase uma outra cidade. Tinha apenas 12 anos de idade e me dei conta de que morava em um paraíso pois tinha a praia de um lado e um enorme shopping center do outro – confesso que gostar de shopping center é meu lado paulista - e no interior dessa ilha, chamada Nova Ipanema, tínhamos o principal, muitos amigos.
Foi nessa atmosfera que descobri o surf. Com 12 anos de idade já tinha adquirido a minha primeira prancha, uma Brazilian Dreams usada, de um tal de José Alonso do Atlântico Sul, mais tarde essa biquilha foi do saudoso Bibi e posteriormente do Baiano, Fernando Quintanilha.
Éramos muito novos na época para podermos ir à praia sozinhos no período da tarde, depois do colégio e, convenhamos, nenhuma mãe acharia plausível deixar o filho de 12 anos ir curtir a praia ao invés de estudar. Desse modo só nos restava o final de semana para podermos vivenciar essa nova habilidade.
Eu, confesso, estava apaixonado por essa nova experiência sensorial que poucos esportes proporcionam com tanta intensidade.
Eram tardes intermináveis, pois tudo que eu queria era estar deslizando pelas pequenas ondas do quebra-côco da Barra.
Um belo dia observando o mar e seu horizonte da varanda da minha sala, encontrei uma maneira de mergulhar nessa experiência durante a semana.
Notei que se eu enrolasse o tapete amplo que ficava em frente ao móvel do aparelho de som da sala, estaria reproduzindo uma onda na sua absoluta essência. Inicialmente a experiência foi deitar sobre o tapete na mesma posição de remada e enquanto a mão esquerda enrolava o tapete, a minha mão direita com os dedos posicionados na forma do símbolo de paz e amor invertido, deslizava sobre a superfície felpuda do tapete verde da sala.
Ali, naquele momento, eu estava saboreando talvez o maior desafio do surf: entender a linha da onda. Foi dessa forma que estive sempre conectado com o esporte durante a semana de estudo na minha pré-adolescência.
Ao som de Pete Townsend, The Cult, Led Zeppelin, Talking Heads e AC/DC, minha imaginação foi evoluindo até eu reproduzir o circuito mundial de surf em plena tábua corrida da sala da minha casa. Todos os grandes nomes da época estiveram presentes, Mark Richards, Shaun Thomson, Martin Potter, Tom Carroll e claro, na minha imaginação, dividindo o seleto grupo de surfistas, “Shane Carpet”. Ele era soberano, conquistava sempre a maior pontuação de todas as baterias. Eram tubos, aéreos, lay backs, cut backs e floaters intermináveis na fértil imaginação de quem comandava a brincadeira.
“Shane Carpet”, com certeza, foi o maior e único campeão do “Circuito Tabacow de Surf”. Essa recordação fantasiosa me perseguiu por muitos anos, até que um dia tive o privilégio de poder materializar esse devaneio infanto-juvenil em um comercial que realizei no início desse ano. Vejam o filme e imaginem “Shane” nas ondas”.
8.20.2007
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7 comentários:
xxx
esse negocio de tapete é realmente muito louco,sempre morei em sao paulo mas nem por isso deixei de brincar muito de tepete,a diferença é que no meu quem madava eram os carrinhos de match box.abs Edu.
Já tinho visto esse filme e não lembrava.Show!Parábens Real
Abs,
Godum
Gênio!
O surf tá nos detalhes. Todos eles.
Parabéns!
excelente Real!!! coincidência ou não, minha primeira prancha também foi uma brasilian dreams de daniel friedman...
Lembro dos campeonatos na casa do lobo, naquele tapete Persa animal da mãe dele. PInóquio sempre com destaque nos aéreos de 10 metros. Isso aí Real é a galera que cresceu no condomínio e que soltava pipa no ventilador, jogava bolinha de gude no carpete e até surfava no carpete....Mas dormir de meia não né....
Excelente, Real! Para seu governo, a sala do Sans Souci tem carpete...
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