8.13.2007

Geração Realce

POR EDUARDO SIQUEIRA, O GODUM


Outra dia, ouvindo de bobeira um dos clássicos do New Order, The Perfect Kiss, me surgiu muito nítida as lembranças dos tapes vanguardistas do Realce. Quem tem mais de 30, e pegava onda na época, sabe o que significou perder alguns finais de tarde de mar mexido pra ligar na Record e assistir ao Realce.
Começou em 83 e era novo, diferente, revolucionário. Antes do Realce, era difícil assistir surfe. DVD, nem existia. Filmes, ou você tinha a sorte de colocar as mãos em alguns poucos VHS's que alguém trazia de fora ou se contentava com as exibições antológicas no Hotel Nacional (Achei que era incêndio!) ou no Teatro de Lona, perto do planetário.
Quando começou a passar vídeos todo sábado com tudo o que estava acontecendo no mundo do surf, a galera simplesmente pirou. A quantidade de imagens trazidas até nós pelos Ricardos - Bocão e Antonio - era, por si só, um feito. Toda a evolução dessa geração, Occy x Curren, Carroll dismistificando Pipe, Curren em Rincon (esse tape vale um artigo solo), Dadá em quinto em Sandy Beach, Fedelho despachando no Hang Loose em Floripa, Fabinho com estrepe no joelho e parafina na boca aparecendo para o Brasil em Itamambuca, entre muitos outros, registrada em vídeos quase caseiros. Tinha cobertura de campeonato mundial, viagens e free surf. A galera não dava mole e gravava as fitas só com os tapes, sem os comerciais, trabalhando na edição roots com o pause, FF e Rew do JVC pré-histórico. Os irmãos Musa, de Nova Ipanema, sempre foram os mais dedicados e caso os Ricardos tenham perdido algo é só pedir que eles têm o VHS com certeza. A galera se reunia na casa deles pra ver o Realce e os tapes gravados todo sábado, às 17hrs, num evento concorrido, regado a queijo quente, frango da geladeira, bomba do Ettore e Coca. Todo mundo moleque, quando surfar era a vida e assistir aos tapes a garantia de inspiração dentro d’agua. A gente via e revia várias vezes pra depois tentar repetir dentro d’água. Era o backside do Occy, o estilo do Curren, as manobras do Dadá, o aproach do Potz, os floaters do Richie Collins e até o biro-biro do Damien Hardman (zoação da época).
Outro capítulo a parte eram as trilhas sonoras. Sempre iradas e inovadoras, com certeza influência para toda uma geração. Se não fosse o Realce, acho que o Hoodoo Gurus e o Spy vs Spy nunca teriam feito um show por aqui.
Sempre ligado, eu corria atrás e descolava os sons pra galera. E o engraçado eram as referências: "Aí,grava aquela Free Nelson Mandela do tape do Barton Lynch de backside no Spurs na Àfrica?"
Essa geração teve o privilégio de pegar onda e ter o Realce pra assistir. Eu sei que hoje temos programas diários na TV e transmissão ao vivo do WCT, mas o significado do Realce na época foi único. Dadá destruindo no Arpoador ao som de No Sleep Till Broklin marcou uma geração. Surfe inacreditável e som perfeito.

7 comentários:

Anônimo disse...

Goda,

CLASSICO, me lembro como se fosse ontem, uma epoca que deixou saudades...

Abs.,

Bizo.

Anônimo disse...

Porra Goda, que lembrança boa essa. Mandou bem no texto. Realce era muito clássico e as lembranças estão até hoje na nossa memória. Lembro muito bem tudo isso que vc falou e de sempre estar te pedindo pra gravar um som novo. Desde Happy Mondays até Violeta de Outono, passando por Lloyd Cole, The Cure, The Cult e por ai vai. Lembra? Valeu por resgastar mais uma época boa da nossa infância e adolescência. Hoje somos orfãos do Realce.
Grande abraço.
Carlinhos

Anônimo disse...

Maravilha de texto, bro. Dia desses procurei alguma coisa sobre o Realce no YouTube, mas a única coisa que encontrei é uma entrevista com o Evandro Mesquita, e mais nada. Lembro que em Florianópolis o programa passava logo depois do almoço, e ao ver e ouvir a vinheta com a "Ao Mod TV Vers" (ontem mesmo assisti no YouTube), ficava vidrado na tela, parecia que nada mais importava em volta.
Valeu Eduardo, valeu Felipe!
Abraços,
Gustavo

guga disse...

Goda,

Eu era vizinho de brothers Musa e tinha lugar cativo nas sessions de Realce. Era incrível aquele programa. Por mais modernos que sejam os programas hoje, aquele cenário rastafari é inigualável. Mas o que mais importava mesmo era a sagacidade dos Ricardos de, já na década de 80, enfrentarem todo o preconceito que existia contra os surfistas e colocarem no ar um dos mais originais programas de todos os tempos.

Valeu Ricardos, valeu Goda, por rememorar essa época inesquecível.

Ab

Guga

Anônimo disse...

Realmente, quando veio uma edição especial de natal, de sunsetão bombando lá fora, com a música SWEET CHILD O'MINE em primeira mão, eu pirei naquele dia!!!

Até as frases do bocão e do antonio ricardo, eu me lembro:
"Mark Richards, tetra campeão mundial, um feito que talvez ninguém consiga repetir" como ele podia imaginar que slater ia botar MR na combi (combination) com o dobro, isto é, oito títulos mundiais.
E cheyne horan (4 vezes vice) em mar perfeito de direitas, de terral, ao som de boys don't cry?

São tantas fitas velhas, algumas estragadas -- não!!! que material eu perdi meu Deus!!! eta vida boa, era colégio de manhã, tapes do realce depois do almoço, surfe, skate, ping pong, rango, boa noite... Eu era felizzzzz e não sabia!!!! bons tempos, bons tapes, os caras do realce foram pioneiros heróicos!!!!

Unknown disse...

Grande Godum,
Excelente texto. Narrou exatamente o que passavamos naquelas inesqueciveis tardes de sabado que nao voltam mais.
Um abracao,
Fabio Cabral

Anônimo disse...

Valeu, sou + 1 que teve honra de assistir esse inovador programa que muitas vezes não fazia uma queda sem antes dar uma assistida para ficar na fissura. Lembro até as propagandas que passavam no intervalo, tipo " ação e moção é nativas" lembram!!!!!!!!! um abraço a todos e que saudades desse tempo bom.

William-Agster