Ouvindo:
8.31.2007
8.29.2007
Follow My Soul
8.28.2007
8.27.2007
Leia-me
Um casal amigo entrou na BlockBuster e, na dúvida sobre qual filme alugar, escolheram o “Escola do Surf”. Provavelmente graças a pressão do Godum, que é surfista há muitos anos, sobre sua mulher, a Karen. O DVD ficou encostado na prateleira no primeiro dia pois eles também alugaram outros para os quais deram prioridade. Na segunda-feira, quando se encontraram em casa depois do trabalho, decidiram assisti-lo, mesmo que fosse apenas para justificar a grana gasta com a locadora.
A Karen chegou a ler a duração, 80 minutos, e disse que não custava tentar. Abriu a caixa e ao retirar o disco, pressionando o plástico preto que o prende pelo centro, viu um papel dobrado colado no verso, onde estava escrito a mão: LEIA-ME. Tirou o bilhete com cuidado para não danificar o DVD. Só faltava ter que pagar multa por estragar um filme chamado “Escola do Surf”, pensou. Desdobrou o papelzinho duas vezes e leu o que estava escrito em voz alta para o marido:
DUVIDO QUE VOCÊ ASSISTA ESSE FILME ATÉ O FIM.
.
A Karen chegou a ler a duração, 80 minutos, e disse que não custava tentar. Abriu a caixa e ao retirar o disco, pressionando o plástico preto que o prende pelo centro, viu um papel dobrado colado no verso, onde estava escrito a mão: LEIA-ME. Tirou o bilhete com cuidado para não danificar o DVD. Só faltava ter que pagar multa por estragar um filme chamado “Escola do Surf”, pensou. Desdobrou o papelzinho duas vezes e leu o que estava escrito em voz alta para o marido:
DUVIDO QUE VOCÊ ASSISTA ESSE FILME ATÉ O FIM.
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8.24.2007
O Tombo
POR GUSTAVO SOARES, O J
Banksy
Bate e volta numa quinta-feira, sozinho, acordando às 4h50. Às 6h30 você está pisando na areia. Na segunda onda percebe que esqueceu de fechar o zíper do long john, tamanha a fissura de entrar na água. Mar de 1 metro, o sol sobe na hora que você vara a arrebentação. Você surfa bem, espera a da série para sair do mar, sai bem, enrola a cordinha, caminha leve.
Aí chega na pedra, debaixo da qual escondeu sua chave duas horas antes. A chave sumiu. Você pensa: FU-DEU. Chegando na vaga onde seu carro deveria estar você põe a prancha na calçada e tenta respirar fundo. Mas o ódio cegaaaaaaaa, como dizia uma música esquisitaça dos anos 80.
Bem ao lado tem dois caras que estão fazendo o que você queria estar fazendo: se enxugando, colocando roupas secas, sorrindo e se preparando para ir embora depois da session. Eles não viram nada, são solidários, ligam para a polícia, você tenta respirar fundo, o long john está mais apertado do que nunca.
Sua cabeça começa a fazer um inventário de tudo que foi junto com o carro. Tinha uma bermuda comprada na Califa que você gostava. O iPod shuffle, melhor playlist da história. A grana e os cartões. As roupas que você iria vestir para poder trabalhar dali a uma hora e meia. O saquinho com as bananas para depois do surf.
Você descobre que tem polícia ali perto, chega lá correndo, com a prancha debaixo do braço, tentando não ser dramático. Os guardas ficam comovidos, você usa o telefone da PM e cancela cartão, liga pra seguro, liga pro banco. Repete seu CPF, RG e endereço mais de 30 vezes.
Tem a parte engraçada, que é andar no banco de trás do camburão, para ir à "Central" registrar a ocorrência. De neoprene e com o bico da prancha saindo pela janela. Todo mundo repara num surfista indo em cana, devem imaginar que o Fora Haole! está vigorando com toda a força no Guarujá. Em menos de duas horas uma viatura encontra o carro. Vazio, roubaram até o estepe. Deixaram o papelzinho do pedágio e o documento do carro, os vagabundos foram profissionais.
O chaveiro diz que já atendeu a mais de 80 casos de surfistas em 4 anos – e contando só clientes da Porto Seguro, imagina os outros - ele faz questão de enfatizar. Um soldado checa o cinzeiro, está vazio porque os ladrões checaram antes. O outro comenta que esse é o crime típico do Tombo. Deixa escapar: "Outro dia foi igualzinho, também era um playboy que estava surfando". Playboy.
Você dá seu jeito de voltar para São Paulo, depois de passar quase seis horas de calor dentro da roupa de borracha. Você conta para um amigo o que aconteceu e, enquanto repassa todos os acontecimentos caóticos do dia, consegue lembrar que tinha um metrinho na série, abrindo. Que no Waves tinha altas fotos. E que estava clássico, apesar de terem roubado até o saquinho com as bananas.
Banksy
Bate e volta numa quinta-feira, sozinho, acordando às 4h50. Às 6h30 você está pisando na areia. Na segunda onda percebe que esqueceu de fechar o zíper do long john, tamanha a fissura de entrar na água. Mar de 1 metro, o sol sobe na hora que você vara a arrebentação. Você surfa bem, espera a da série para sair do mar, sai bem, enrola a cordinha, caminha leve.
Aí chega na pedra, debaixo da qual escondeu sua chave duas horas antes. A chave sumiu. Você pensa: FU-DEU. Chegando na vaga onde seu carro deveria estar você põe a prancha na calçada e tenta respirar fundo. Mas o ódio cegaaaaaaaa, como dizia uma música esquisitaça dos anos 80.
Bem ao lado tem dois caras que estão fazendo o que você queria estar fazendo: se enxugando, colocando roupas secas, sorrindo e se preparando para ir embora depois da session. Eles não viram nada, são solidários, ligam para a polícia, você tenta respirar fundo, o long john está mais apertado do que nunca.
Sua cabeça começa a fazer um inventário de tudo que foi junto com o carro. Tinha uma bermuda comprada na Califa que você gostava. O iPod shuffle, melhor playlist da história. A grana e os cartões. As roupas que você iria vestir para poder trabalhar dali a uma hora e meia. O saquinho com as bananas para depois do surf.
Você descobre que tem polícia ali perto, chega lá correndo, com a prancha debaixo do braço, tentando não ser dramático. Os guardas ficam comovidos, você usa o telefone da PM e cancela cartão, liga pra seguro, liga pro banco. Repete seu CPF, RG e endereço mais de 30 vezes.
Tem a parte engraçada, que é andar no banco de trás do camburão, para ir à "Central" registrar a ocorrência. De neoprene e com o bico da prancha saindo pela janela. Todo mundo repara num surfista indo em cana, devem imaginar que o Fora Haole! está vigorando com toda a força no Guarujá. Em menos de duas horas uma viatura encontra o carro. Vazio, roubaram até o estepe. Deixaram o papelzinho do pedágio e o documento do carro, os vagabundos foram profissionais.
O chaveiro diz que já atendeu a mais de 80 casos de surfistas em 4 anos – e contando só clientes da Porto Seguro, imagina os outros - ele faz questão de enfatizar. Um soldado checa o cinzeiro, está vazio porque os ladrões checaram antes. O outro comenta que esse é o crime típico do Tombo. Deixa escapar: "Outro dia foi igualzinho, também era um playboy que estava surfando". Playboy.
Você dá seu jeito de voltar para São Paulo, depois de passar quase seis horas de calor dentro da roupa de borracha. Você conta para um amigo o que aconteceu e, enquanto repassa todos os acontecimentos caóticos do dia, consegue lembrar que tinha um metrinho na série, abrindo. Que no Waves tinha altas fotos. E que estava clássico, apesar de terem roubado até o saquinho com as bananas.
8.22.2007
8.20.2007
Shane Carpet
POR RICARDO REAL
Até 1982 fui paulista. Quando meu pai recebeu uma nova oportunidade de negócio, a família transferiu-se para o Rio de Janeiro, mas precisamente para um condomínio na Barra da Tijuca, que considero quase uma outra cidade. Tinha apenas 12 anos de idade e me dei conta de que morava em um paraíso pois tinha a praia de um lado e um enorme shopping center do outro – confesso que gostar de shopping center é meu lado paulista - e no interior dessa ilha, chamada Nova Ipanema, tínhamos o principal, muitos amigos.
Foi nessa atmosfera que descobri o surf. Com 12 anos de idade já tinha adquirido a minha primeira prancha, uma Brazilian Dreams usada, de um tal de José Alonso do Atlântico Sul, mais tarde essa biquilha foi do saudoso Bibi e posteriormente do Baiano, Fernando Quintanilha.
Éramos muito novos na época para podermos ir à praia sozinhos no período da tarde, depois do colégio e, convenhamos, nenhuma mãe acharia plausível deixar o filho de 12 anos ir curtir a praia ao invés de estudar. Desse modo só nos restava o final de semana para podermos vivenciar essa nova habilidade.
Eu, confesso, estava apaixonado por essa nova experiência sensorial que poucos esportes proporcionam com tanta intensidade.
Eram tardes intermináveis, pois tudo que eu queria era estar deslizando pelas pequenas ondas do quebra-côco da Barra.
Um belo dia observando o mar e seu horizonte da varanda da minha sala, encontrei uma maneira de mergulhar nessa experiência durante a semana.
Notei que se eu enrolasse o tapete amplo que ficava em frente ao móvel do aparelho de som da sala, estaria reproduzindo uma onda na sua absoluta essência. Inicialmente a experiência foi deitar sobre o tapete na mesma posição de remada e enquanto a mão esquerda enrolava o tapete, a minha mão direita com os dedos posicionados na forma do símbolo de paz e amor invertido, deslizava sobre a superfície felpuda do tapete verde da sala.
Ali, naquele momento, eu estava saboreando talvez o maior desafio do surf: entender a linha da onda. Foi dessa forma que estive sempre conectado com o esporte durante a semana de estudo na minha pré-adolescência.
Ao som de Pete Townsend, The Cult, Led Zeppelin, Talking Heads e AC/DC, minha imaginação foi evoluindo até eu reproduzir o circuito mundial de surf em plena tábua corrida da sala da minha casa. Todos os grandes nomes da época estiveram presentes, Mark Richards, Shaun Thomson, Martin Potter, Tom Carroll e claro, na minha imaginação, dividindo o seleto grupo de surfistas, “Shane Carpet”. Ele era soberano, conquistava sempre a maior pontuação de todas as baterias. Eram tubos, aéreos, lay backs, cut backs e floaters intermináveis na fértil imaginação de quem comandava a brincadeira.
“Shane Carpet”, com certeza, foi o maior e único campeão do “Circuito Tabacow de Surf”. Essa recordação fantasiosa me perseguiu por muitos anos, até que um dia tive o privilégio de poder materializar esse devaneio infanto-juvenil em um comercial que realizei no início desse ano. Vejam o filme e imaginem “Shane” nas ondas”.
Até 1982 fui paulista. Quando meu pai recebeu uma nova oportunidade de negócio, a família transferiu-se para o Rio de Janeiro, mas precisamente para um condomínio na Barra da Tijuca, que considero quase uma outra cidade. Tinha apenas 12 anos de idade e me dei conta de que morava em um paraíso pois tinha a praia de um lado e um enorme shopping center do outro – confesso que gostar de shopping center é meu lado paulista - e no interior dessa ilha, chamada Nova Ipanema, tínhamos o principal, muitos amigos.
Foi nessa atmosfera que descobri o surf. Com 12 anos de idade já tinha adquirido a minha primeira prancha, uma Brazilian Dreams usada, de um tal de José Alonso do Atlântico Sul, mais tarde essa biquilha foi do saudoso Bibi e posteriormente do Baiano, Fernando Quintanilha.
Éramos muito novos na época para podermos ir à praia sozinhos no período da tarde, depois do colégio e, convenhamos, nenhuma mãe acharia plausível deixar o filho de 12 anos ir curtir a praia ao invés de estudar. Desse modo só nos restava o final de semana para podermos vivenciar essa nova habilidade.
Eu, confesso, estava apaixonado por essa nova experiência sensorial que poucos esportes proporcionam com tanta intensidade.
Eram tardes intermináveis, pois tudo que eu queria era estar deslizando pelas pequenas ondas do quebra-côco da Barra.
Um belo dia observando o mar e seu horizonte da varanda da minha sala, encontrei uma maneira de mergulhar nessa experiência durante a semana.
Notei que se eu enrolasse o tapete amplo que ficava em frente ao móvel do aparelho de som da sala, estaria reproduzindo uma onda na sua absoluta essência. Inicialmente a experiência foi deitar sobre o tapete na mesma posição de remada e enquanto a mão esquerda enrolava o tapete, a minha mão direita com os dedos posicionados na forma do símbolo de paz e amor invertido, deslizava sobre a superfície felpuda do tapete verde da sala.
Ali, naquele momento, eu estava saboreando talvez o maior desafio do surf: entender a linha da onda. Foi dessa forma que estive sempre conectado com o esporte durante a semana de estudo na minha pré-adolescência.
Ao som de Pete Townsend, The Cult, Led Zeppelin, Talking Heads e AC/DC, minha imaginação foi evoluindo até eu reproduzir o circuito mundial de surf em plena tábua corrida da sala da minha casa. Todos os grandes nomes da época estiveram presentes, Mark Richards, Shaun Thomson, Martin Potter, Tom Carroll e claro, na minha imaginação, dividindo o seleto grupo de surfistas, “Shane Carpet”. Ele era soberano, conquistava sempre a maior pontuação de todas as baterias. Eram tubos, aéreos, lay backs, cut backs e floaters intermináveis na fértil imaginação de quem comandava a brincadeira.
“Shane Carpet”, com certeza, foi o maior e único campeão do “Circuito Tabacow de Surf”. Essa recordação fantasiosa me perseguiu por muitos anos, até que um dia tive o privilégio de poder materializar esse devaneio infanto-juvenil em um comercial que realizei no início desse ano. Vejam o filme e imaginem “Shane” nas ondas”.
8.17.2007
S.A.L. - Serviço de Atendimento ao Leitor
Esse texto, escrito por um leitor e amigo do Chasing, foi publicado no site da Hardcore e repetido aqui, com muito gosto, a pedido do autor.
OUVIR O SEGREDO - POR FELIPE MORTARA
Desde pequenos somos ensinados a ter bons modos, aprendemos valores e costumes. Não falar de boca cheia, dizer obrigado, não mentir. O tempo passa e mais valores são acrescentados. O mundo cobra de você e você também se cobra. É preciso assistir às aulas, se formar, ter sucesso. Dizer a verdade, não espalhar um segredo. Alguém pode sempre perguntar, mas a resposta é que vai dizer quem é você.
O confidencial sempre foi ensinado como algo delicado, perigoso. Aquele que confia a alguém alguma informação está dividindo uma incerteza, entregando uma chave. Que pode abrir tanto o céu como o inferno, só depende do ponto de vista.
A onda que estampa a capa da revista Hardcore desse mês é um exemplo de segredo que pode levar os que a conhecem às nuvens. Claro, existe um passaporte para lá, e não é apenas a habilidade sobre a prancha ou o faro para tubos. É um mapa que não existe no papel. Um mapa em que não estão escritas coordenadas ou referências. Os “descobridores” fizeram questão de eliminar os registros e criar um novo apelido. Assim, o paraíso pode ser em qualquer lugar.
Se você quer um nome: Pasti. Uma palavra que no idioma local significa “definitivamente”. Quem sabe seja um rumo, mas certamente será mais uma dúvida.
O único porto de entrada é acompanhado dos desbravadores. Estes não são pupilos de Robinson Crusoé, pois quando chegaram já havia moradores por lá, mas nenhum surfista. Como ninguém nunca havia deslizado sobre uma prancha por aqueles canudos, eles findaram por batizar e colonizar essa direita. Fundaram ali uma minúscula e ainda secreta nação surf.
Logicamente poderia (e ainda pode vir a) ser mais um reef crowdeado das Mentawaii ou um spot tenso do North Shore, mas não. Até agora permanece um lugar protegido, numa remota ilha da Indonésia, sem energia elétrica e com uma única pretensão. Continuar desconhecido. E a pergunta: porque esse desejo?
E como resposta, outra pergunta: - quem nunca sonhou em ter uma onda só para dividir com os amigos?
A sua pode estar em algum lugar no fim do mundo, ou na cara de todos. Mas não necessariamente no mapa. O mundo inteiro vai querer ouvir seu segredo. Será que você vai querer contar?
OUVIR O SEGREDO - POR FELIPE MORTARA
Desde pequenos somos ensinados a ter bons modos, aprendemos valores e costumes. Não falar de boca cheia, dizer obrigado, não mentir. O tempo passa e mais valores são acrescentados. O mundo cobra de você e você também se cobra. É preciso assistir às aulas, se formar, ter sucesso. Dizer a verdade, não espalhar um segredo. Alguém pode sempre perguntar, mas a resposta é que vai dizer quem é você.
O confidencial sempre foi ensinado como algo delicado, perigoso. Aquele que confia a alguém alguma informação está dividindo uma incerteza, entregando uma chave. Que pode abrir tanto o céu como o inferno, só depende do ponto de vista.
A onda que estampa a capa da revista Hardcore desse mês é um exemplo de segredo que pode levar os que a conhecem às nuvens. Claro, existe um passaporte para lá, e não é apenas a habilidade sobre a prancha ou o faro para tubos. É um mapa que não existe no papel. Um mapa em que não estão escritas coordenadas ou referências. Os “descobridores” fizeram questão de eliminar os registros e criar um novo apelido. Assim, o paraíso pode ser em qualquer lugar.
Se você quer um nome: Pasti. Uma palavra que no idioma local significa “definitivamente”. Quem sabe seja um rumo, mas certamente será mais uma dúvida.
O único porto de entrada é acompanhado dos desbravadores. Estes não são pupilos de Robinson Crusoé, pois quando chegaram já havia moradores por lá, mas nenhum surfista. Como ninguém nunca havia deslizado sobre uma prancha por aqueles canudos, eles findaram por batizar e colonizar essa direita. Fundaram ali uma minúscula e ainda secreta nação surf.
Logicamente poderia (e ainda pode vir a) ser mais um reef crowdeado das Mentawaii ou um spot tenso do North Shore, mas não. Até agora permanece um lugar protegido, numa remota ilha da Indonésia, sem energia elétrica e com uma única pretensão. Continuar desconhecido. E a pergunta: porque esse desejo?
E como resposta, outra pergunta: - quem nunca sonhou em ter uma onda só para dividir com os amigos?
A sua pode estar em algum lugar no fim do mundo, ou na cara de todos. Mas não necessariamente no mapa. O mundo inteiro vai querer ouvir seu segredo. Será que você vai querer contar?
8.14.2007
Nascimento e Morte
Nasceu Felipe, filho do meu irmão. Foi no dia dos pais, là pelas 5h00 da manhã. Rodrigo, o pai dele, não surfa e, por isso, Felipe nunca vai ter na memória a imagem de seu pai pegando onda enquanto ele brinca na areia. Eu também não tive. Meu pai, quando novo, pegou muito jacaré em Copacabana, onde morava, mas seu esporte era o frescobol. Talvez na época o surfe fosse algo revolucionário demais para ele ou apenas não lhe despertou interesse, vai saber. Mas imagino que a minha vida tivesse sido diferente se meu pai fosse surfista. Tenho certeza que chegar na praia junto dele carregando uma prancha, para, em seguida, vê-lo lançar-se às ondas, teria me causado algum tipo de impressão. Claro que o tiro poderia sair pela culátra. Meu pai é engenheiro químico e eu detesto química. Se essa regra tivesse se repetido no mar, hoje estaríamos falando sobre xadrez ou sei lá o quê. Mas fica a dúvida. Tenho amigos que se formaram médicos por que o pai era médico e talvez, como no exemplo, eu decidisse transformar o hobby do meu pai surfista numa tradição familiar, digna de emblemas, álbuns de fotos e reformas de pranchas antigas que, como relógios de parede, estariam na família há décadas contadas.
Toda vez que vou a praia e vejo um moleque brincando sozinho, imagino que há um pai surfista dentro d'água que será recebido como herói quando voltar à areia. Para não falar que deve ser mais fácil para um garoto que, treinado em identificar o próprio pai num line up distante, acaba aprendendo, simultaneamente, a decifrar as ondas e seus caprichos aleatóreos. Não consigo deixar de invejar isso, da mesma maneira que invejo o sentimento de um garotinho remando pela primeira vez no outside junto do pai e de seus amigos.
Eu ainda não tenho filhos mas namorei uma menina que tem um. Tiago adora praia e não pude evitar de lembrar dele no momento em que meu irmão me ligou para contar sobre o nascimento de meu sobrinho. Na verdade, eu já penso no menino há algum tempo e quando vi, depois de pegar onda no sábado passado, um garotinho na areia olhando para o mar, me perguntei se Tiago lembra de mim quando vê um surfista. Mais ainda, se o fato da mãe dele ter namorado comigo viria, algum dia, a empurrá-lo para dentro do mar em direção às ondas ou se sua reação seria a contrária. Nunca vou saber pois esse namoro ficou para trás embora o amor pelo garoto continue. Talvez um dia, se tiver sorte, eu esbarre com ele num sábado de manhã na Itamambuca, entrando numa onda da série para a qual eu não tive disposicão de remar. Confesso que me tomaria de orgulho e me manteria calado, como deve fazer o autor de um crime que lê sobre sua façanha no jornal do dia seguinte.
Torço para que meu sobrinho, o Felipe, surfe comigo um dia. Tiago seria muito bem-vindo e, para ser ainda mais perfeito, meu pai também. O line up de uma vida dentro d'água, vendo as ondas passarem diante dos olhos. Com sorte, um de nós pegaria um tubo. Só para provar ao tempo quem é que manda.
8.13.2007
Geração Realce
POR EDUARDO SIQUEIRA, O GODUM
Outra dia, ouvindo de bobeira um dos clássicos do New Order, The Perfect Kiss, me surgiu muito nítida as lembranças dos tapes vanguardistas do Realce. Quem tem mais de 30, e pegava onda na época, sabe o que significou perder alguns finais de tarde de mar mexido pra ligar na Record e assistir ao Realce.
Começou em 83 e era novo, diferente, revolucionário. Antes do Realce, era difícil assistir surfe. DVD, nem existia. Filmes, ou você tinha a sorte de colocar as mãos em alguns poucos VHS's que alguém trazia de fora ou se contentava com as exibições antológicas no Hotel Nacional (Achei que era incêndio!) ou no Teatro de Lona, perto do planetário.
Quando começou a passar vídeos todo sábado com tudo o que estava acontecendo no mundo do surf, a galera simplesmente pirou. A quantidade de imagens trazidas até nós pelos Ricardos - Bocão e Antonio - era, por si só, um feito. Toda a evolução dessa geração, Occy x Curren, Carroll dismistificando Pipe, Curren em Rincon (esse tape vale um artigo solo), Dadá em quinto em Sandy Beach, Fedelho despachando no Hang Loose em Floripa, Fabinho com estrepe no joelho e parafina na boca aparecendo para o Brasil em Itamambuca, entre muitos outros, registrada em vídeos quase caseiros. Tinha cobertura de campeonato mundial, viagens e free surf. A galera não dava mole e gravava as fitas só com os tapes, sem os comerciais, trabalhando na edição roots com o pause, FF e Rew do JVC pré-histórico. Os irmãos Musa, de Nova Ipanema, sempre foram os mais dedicados e caso os Ricardos tenham perdido algo é só pedir que eles têm o VHS com certeza. A galera se reunia na casa deles pra ver o Realce e os tapes gravados todo sábado, às 17hrs, num evento concorrido, regado a queijo quente, frango da geladeira, bomba do Ettore e Coca. Todo mundo moleque, quando surfar era a vida e assistir aos tapes a garantia de inspiração dentro d’agua. A gente via e revia várias vezes pra depois tentar repetir dentro d’água. Era o backside do Occy, o estilo do Curren, as manobras do Dadá, o aproach do Potz, os floaters do Richie Collins e até o biro-biro do Damien Hardman (zoação da época).
Outro capítulo a parte eram as trilhas sonoras. Sempre iradas e inovadoras, com certeza influência para toda uma geração. Se não fosse o Realce, acho que o Hoodoo Gurus e o Spy vs Spy nunca teriam feito um show por aqui.
Sempre ligado, eu corria atrás e descolava os sons pra galera. E o engraçado eram as referências: "Aí,grava aquela Free Nelson Mandela do tape do Barton Lynch de backside no Spurs na Àfrica?"
Essa geração teve o privilégio de pegar onda e ter o Realce pra assistir. Eu sei que hoje temos programas diários na TV e transmissão ao vivo do WCT, mas o significado do Realce na época foi único. Dadá destruindo no Arpoador ao som de No Sleep Till Broklin marcou uma geração. Surfe inacreditável e som perfeito.
Outra dia, ouvindo de bobeira um dos clássicos do New Order, The Perfect Kiss, me surgiu muito nítida as lembranças dos tapes vanguardistas do Realce. Quem tem mais de 30, e pegava onda na época, sabe o que significou perder alguns finais de tarde de mar mexido pra ligar na Record e assistir ao Realce.
Começou em 83 e era novo, diferente, revolucionário. Antes do Realce, era difícil assistir surfe. DVD, nem existia. Filmes, ou você tinha a sorte de colocar as mãos em alguns poucos VHS's que alguém trazia de fora ou se contentava com as exibições antológicas no Hotel Nacional (Achei que era incêndio!) ou no Teatro de Lona, perto do planetário.
Quando começou a passar vídeos todo sábado com tudo o que estava acontecendo no mundo do surf, a galera simplesmente pirou. A quantidade de imagens trazidas até nós pelos Ricardos - Bocão e Antonio - era, por si só, um feito. Toda a evolução dessa geração, Occy x Curren, Carroll dismistificando Pipe, Curren em Rincon (esse tape vale um artigo solo), Dadá em quinto em Sandy Beach, Fedelho despachando no Hang Loose em Floripa, Fabinho com estrepe no joelho e parafina na boca aparecendo para o Brasil em Itamambuca, entre muitos outros, registrada em vídeos quase caseiros. Tinha cobertura de campeonato mundial, viagens e free surf. A galera não dava mole e gravava as fitas só com os tapes, sem os comerciais, trabalhando na edição roots com o pause, FF e Rew do JVC pré-histórico. Os irmãos Musa, de Nova Ipanema, sempre foram os mais dedicados e caso os Ricardos tenham perdido algo é só pedir que eles têm o VHS com certeza. A galera se reunia na casa deles pra ver o Realce e os tapes gravados todo sábado, às 17hrs, num evento concorrido, regado a queijo quente, frango da geladeira, bomba do Ettore e Coca. Todo mundo moleque, quando surfar era a vida e assistir aos tapes a garantia de inspiração dentro d’agua. A gente via e revia várias vezes pra depois tentar repetir dentro d’água. Era o backside do Occy, o estilo do Curren, as manobras do Dadá, o aproach do Potz, os floaters do Richie Collins e até o biro-biro do Damien Hardman (zoação da época).
Outro capítulo a parte eram as trilhas sonoras. Sempre iradas e inovadoras, com certeza influência para toda uma geração. Se não fosse o Realce, acho que o Hoodoo Gurus e o Spy vs Spy nunca teriam feito um show por aqui.
Sempre ligado, eu corria atrás e descolava os sons pra galera. E o engraçado eram as referências: "Aí,grava aquela Free Nelson Mandela do tape do Barton Lynch de backside no Spurs na Àfrica?"
Essa geração teve o privilégio de pegar onda e ter o Realce pra assistir. Eu sei que hoje temos programas diários na TV e transmissão ao vivo do WCT, mas o significado do Realce na época foi único. Dadá destruindo no Arpoador ao som de No Sleep Till Broklin marcou uma geração. Surfe inacreditável e som perfeito.
Molusco
Vai a dica de mais uma surfshop que pensa diferente: a Mollusk. Situada em San Diego, essa loja vende artigos no mínimo fora da curva, medíocre, da maioria das surfshops que conhecemos. Tem artigos de arte, livros, dvds, pranchas, tudo arranjado de uma maneira a nos fazer pensar o surfe para além da performance.
Vale a visita e o clique na sessão de vídeos com conteúdo gerado pela própria loja sobre seus shapers.
8.09.2007
8.07.2007
Nicarágua - Quintal da América.
POR RODRIGO ZARDO
O local da próxima Trip já estava definido: sem dúvida seria para Nicarágua. Começamos a tentar buscar mais informações do país, das cidades e dos picos de surf. Somando as dicas, os vários sites visitados, e o fato da região de Popoyo ser a mais conhecida, e por isso mais crowdeada de americanos, escolhemos seguir mais ao sul para a cidade de San Juan del Sur, próxima à divisa com a Costa Rica.
Saímos aqui do Rio no dia 27 de junho, em um vôo com escala no Panamá e depois na Costa Rica, chegando então em Manágua. A capital da Nicarágua fica situada bem no centro do país, “longe” do litoral. No aeroporto alugamos um 4x4 e partimos para o nosso destino final. No caminho encontramos um país bastante rural, com estradas simples e pouco sinalizadas, uma natureza bem preservada e um povo tranqüilo, que em nada lembrava as notícias de conflitos armados de anos atrás.
Escolhemos uma pousada em Playa Madera, um beach break de boa formação com ondas para os dois lados. Fomos descobrindo que, na verdade, essa praia é uma das poucas com acesso liberado. Um problema recorrente na Nicarágua é que os proprietários de terras compram as áreas em volta das praias e não permitem o acesso a areia, a não ser que você alugue uma propriedade dentro desses loteamentos. Com isso, fomos obrigados a recorrer a pequenos barcos para as caídas diárias. Em aproximadamente uma hora podíamos chegar a uns sete ou oito picos de diferentes formações, desde esquerdas longas (Manzanillo), com umas oito a nove manobras por onda, quebrando em um point break colado no penhasco, um outro com direitas e esquerdas tubulares em um beach break que quebrava tanto na maré vazia como na cheia, ou um pico de direita, com altas ondas quebrando em três seções bem definidas, conhecido como “Pangua Drop” (devido ao grande número de barcos que já viraram por lá.). Se você cair na besteira de perguntar para os locais ou consultar algum site, eles vão dizer que é uma onda ruim, toma muito na cabeça e que tem que remar muito.
De barco, em pouco mais de uma hora chegamos a Popoyo, uma praia com vários picos bons, com ondas um pouco mais curtas e um reef mais à esquerda da praia, que tem uma onda de boa formação para os dois lados. Lá quebra uma das maiores ondas do país; um outside reef que, com o swell certo, segura esquerdas sólidas de até 12 pés.
Existem ainda vários outros picos menos conhecidos e divulgados, com surf de qualidade e, o melhor, no quintal da América.
Deixe na praia somente as suas pegadas – Surfrider Foundation.
O local da próxima Trip já estava definido: sem dúvida seria para Nicarágua. Começamos a tentar buscar mais informações do país, das cidades e dos picos de surf. Somando as dicas, os vários sites visitados, e o fato da região de Popoyo ser a mais conhecida, e por isso mais crowdeada de americanos, escolhemos seguir mais ao sul para a cidade de San Juan del Sur, próxima à divisa com a Costa Rica.
Saímos aqui do Rio no dia 27 de junho, em um vôo com escala no Panamá e depois na Costa Rica, chegando então em Manágua. A capital da Nicarágua fica situada bem no centro do país, “longe” do litoral. No aeroporto alugamos um 4x4 e partimos para o nosso destino final. No caminho encontramos um país bastante rural, com estradas simples e pouco sinalizadas, uma natureza bem preservada e um povo tranqüilo, que em nada lembrava as notícias de conflitos armados de anos atrás.
Escolhemos uma pousada em Playa Madera, um beach break de boa formação com ondas para os dois lados. Fomos descobrindo que, na verdade, essa praia é uma das poucas com acesso liberado. Um problema recorrente na Nicarágua é que os proprietários de terras compram as áreas em volta das praias e não permitem o acesso a areia, a não ser que você alugue uma propriedade dentro desses loteamentos. Com isso, fomos obrigados a recorrer a pequenos barcos para as caídas diárias. Em aproximadamente uma hora podíamos chegar a uns sete ou oito picos de diferentes formações, desde esquerdas longas (Manzanillo), com umas oito a nove manobras por onda, quebrando em um point break colado no penhasco, um outro com direitas e esquerdas tubulares em um beach break que quebrava tanto na maré vazia como na cheia, ou um pico de direita, com altas ondas quebrando em três seções bem definidas, conhecido como “Pangua Drop” (devido ao grande número de barcos que já viraram por lá.). Se você cair na besteira de perguntar para os locais ou consultar algum site, eles vão dizer que é uma onda ruim, toma muito na cabeça e que tem que remar muito.
De barco, em pouco mais de uma hora chegamos a Popoyo, uma praia com vários picos bons, com ondas um pouco mais curtas e um reef mais à esquerda da praia, que tem uma onda de boa formação para os dois lados. Lá quebra uma das maiores ondas do país; um outside reef que, com o swell certo, segura esquerdas sólidas de até 12 pés.
Existem ainda vários outros picos menos conhecidos e divulgados, com surf de qualidade e, o melhor, no quintal da América.
Deixe na praia somente as suas pegadas – Surfrider Foundation.
Artesanato
Já se escreveu sobre a evolucão do surfe aqui no Chasing. É um assunto polêmico e que abre espaço para muitas opniões, sempre bem-vindas. Defendo que as marcas de surfe, que hoje faturam fortunas, têm feito muito pouco pela evolução dos equipamentos. Tanto no que se refere à tecnologia quanto à estética. Mas isso não exclui o fato de que o lado artesanal da fabricação de pranchas precisa continuar existindo. É um aspecto presente na história do esporte e que continua sendo necessário e relevante. Coerente com essa visão, aqui vai uma dica: a 101 Fins. São de madeira, artesanais e lindas.
8.06.2007
Exílio
Uma maré gelada se agarrou ao litoral do sudeste brasileiro com determinação. Sua água escura e fria parece ter adotado as praias de São Sebastião, e também Guarujá, como morada de férias, do mesmo jeito que um gringo elege o Brasil e aqui fica, meio desbundado com a beleza e com a facilidade de se encostar. Esse mesmo mar esfriou o vento sul e sudeste e empurrou sua temperatura baixa para dentro das florestas que resistem nas montanhas do litoral norte. Esses grupos de mata fechada são como revolucionários cubanos lutando contra o capitalismo e seus lotes imobiliários. São ilhas que, ao invés de Miami, têm o desenvolvimento de São Paulo como vizinho e ameaça. Apenas com a diferença de que essa Cuba verde não vê seus moradores se jogando em balsas improvisadas rumo ao desenvolvimento e à grana. Na verdade, o que acontece é o contrário. Eu, que moro em São Paulo, me pego agora boiando em meu longboard no mar gelado e com ondas pequenas de Camburi. Têm locais juntos de mim mas a maioria dos surfistas que dominan o line up também não são daqui. Se lançaram na estrada com suas pranchas e desespero, esperando que o surfe os faça esquecer de onde precisam ganhar a vida para lembrarem de onde podem desfrutá-la. Eu sou um deles remando e torcendo para aceitarem meu pedido de asilo. Os longboards ajudam a clorir a visão pois, com exceção do meu, a maioria é pintada de cores fortes que, num dia de sol e mar azul escuro como o de hoje, saturam o espetáculo. Essa era a primeira vez que surfo com tantos caras bons. Depois de cada onda, passam por mim sujeitos que, com muita elegância, manobram seus pranchões com a desenvoltura digna de filmes. Algumas vezes, mais de um por onda e - sem deixarem o mau humor estragar o dia – sempre sorrindo por saberem que o mar é para todos. Essa visão me fez lembrar da matéria que havia lido na revista de surfe australiana Tracks, autoentitulada “A bíblia do Surfe”, sobre brasileiros invadindo aquele país. O jornalista nos descreve como desesperados, expurgados do Brasil pela pobreza, violência e corrupção pública para crowdear as cidades da Gold Coast em busca de uma vida digna e repleta de boas ondas. Termina nos dando as boas-vindas, mas com uma sugestão: que não fôssemos para as melhores praias, mas para as cidades ao lado, onde não causaríamos tanto incômodo. A unânimidade do artigo é a nossa falta de educação e de como “seríamos capazes de remar por cima de nossas próprias avós para dropar uma da série.”. Olho para o meu reflexo n’água, me viro e vejo todos os outros que estão surfando ao meu redor, felizes e silenciosos. Não nos reconheço naquela descrição. Não nesse dia.
Tuba - zizzzzz - rão!!
Surfistas do mundo todo, incluindo do Recife, podem surfar mais tranqüilos. Chegou ao mercado o Sharkshield, um aparelho que, preso na rabeta da prancha, emite pulsos elétricos que deixam tubarões desnorteados, evitando, assim, um ataque. Abaixo, um vídeo sobre o assunto e um outro, para quem fica imaginando: por que será que os caras tem tanto medo desse peixinho? Dica do Ricardo Balduíno. Mais, aqui.
8.03.2007
E o Inside? Tem Dono?
POR GIOVANNI BISCARDI - FOTO: VAVÁ RIBEIRO
Se remar na melhor da série eu torço para cair! Os que me conhecem sabem que é verdade. Mas antes de ser esculachado pelos blogueiros de plantão, gostaria de me justificar...
Durante anos surfei no Meio da Barra, no pico mais conhecido por 3.100 devido à localização em frente ao condomínio de mesmo número na Av. Sernambetiba. O crowd no 3.100 era uma atração a parte. Tinham os locais legítimos que moravam em frente ao pico, tais como Sérgio "Fedelho" Noronha, Guto Carvalho, Marcos ADN e Roberto Casquinha. Mas o interessante mesmo era a presença de um grupo de surfistas que vinha de longe, na maioria das vezes do bairro da Tijuca, que conseguiram se tornar locais do 3.100 na base da raça. Eles chegavam de Fusca, de 233 (linha de ônibus que liga a Tijuca à Barra) ou de moto. Dentre tais "haoles residentes", o expoente sempre foi o eterno ídolo Dadá Figueiredo, um dos surfistas mais respeitados da história do surf brasileiro.
Da minha parte, estava na fase de aprendizado. Portanto, observar os grandes talentos do 3.100 fluindo na água era tão importante quanto assistir o Tom Curren no Realce. Por conta disso, passei horas e horas da minha adolescência em frente ao pico, observando surfistas de renome nacional batalhando pela melhor direita da série.
No entanto, desde cedo notei que as melhores ondas não eram aquelas surfadas pelo pessoal que se degladiava no outside em busca da maior do dia. Para mim, a mágica estava nas ondinhas menores surfadas pelo Dadá Figueiredo no inside...
Você acha impossível que uma direita da série bem surfada pelo Fedelho pudesse ser ofuscada por uma merreca surfada pelo Dadá no inside, não? Pois para mim era...
Velocidade, várias batidas na cara, 360ºs e os famosos laybacks...essas ondas do Dadá fizeram nascer em mim a verdadeira paixão pelo surfe. A combinação Dadá Figueiredo e inside do 3.100 era perfeita. Vou além...o Dadá do inside botaria na kombi o Dadá das maiores da série em quantas baterias virtuais fossem possíveis imaginar.
O pior de tudo é que lembro de ter sido, ainda moleque, rabeado por todos os grandes surfistas do pico, mas nunca pelo Dadá. Ou seja, o inside sempre teve dono e o Dadá tomou posse de forma mansa e pacífica, mesmo estando sempre mais para o "rabo" da onda.
Depois de anos de inside no 3.100, tendo experimentado insides internacionais como o de Sunset, Señoritas, Haapiti e Macarronis, não fico nem um pouco acanhado em dizer que me especializei na arte de surfar o "quebra coco". Tudo isso sem fama de rabear.
O segredo é simples. Além da arte de surfar, aprendi com o Dadá Figueiredo o famoso olhar "233". Aquele meio de lado, já saindo, indo embora, louco pela onda, que derruba qualquer um. Esse só aprende quem cruzou o Alto da Boa Vista de ônibus em direção ao mar, equilibrando a prancha na roleta.
Com ele faço a melhor parafina ficar escorregadia e a melhor quilha ficar instável. Dificilmente alguém consegue conectar o inside! Nesse momento eu viro o bico, dou duas remadinhas de leve e é só alegria!
Se remar na melhor da série eu torço para cair! Os que me conhecem sabem que é verdade. Mas antes de ser esculachado pelos blogueiros de plantão, gostaria de me justificar...
Durante anos surfei no Meio da Barra, no pico mais conhecido por 3.100 devido à localização em frente ao condomínio de mesmo número na Av. Sernambetiba. O crowd no 3.100 era uma atração a parte. Tinham os locais legítimos que moravam em frente ao pico, tais como Sérgio "Fedelho" Noronha, Guto Carvalho, Marcos ADN e Roberto Casquinha. Mas o interessante mesmo era a presença de um grupo de surfistas que vinha de longe, na maioria das vezes do bairro da Tijuca, que conseguiram se tornar locais do 3.100 na base da raça. Eles chegavam de Fusca, de 233 (linha de ônibus que liga a Tijuca à Barra) ou de moto. Dentre tais "haoles residentes", o expoente sempre foi o eterno ídolo Dadá Figueiredo, um dos surfistas mais respeitados da história do surf brasileiro.
Da minha parte, estava na fase de aprendizado. Portanto, observar os grandes talentos do 3.100 fluindo na água era tão importante quanto assistir o Tom Curren no Realce. Por conta disso, passei horas e horas da minha adolescência em frente ao pico, observando surfistas de renome nacional batalhando pela melhor direita da série.
No entanto, desde cedo notei que as melhores ondas não eram aquelas surfadas pelo pessoal que se degladiava no outside em busca da maior do dia. Para mim, a mágica estava nas ondinhas menores surfadas pelo Dadá Figueiredo no inside...
Você acha impossível que uma direita da série bem surfada pelo Fedelho pudesse ser ofuscada por uma merreca surfada pelo Dadá no inside, não? Pois para mim era...
Velocidade, várias batidas na cara, 360ºs e os famosos laybacks...essas ondas do Dadá fizeram nascer em mim a verdadeira paixão pelo surfe. A combinação Dadá Figueiredo e inside do 3.100 era perfeita. Vou além...o Dadá do inside botaria na kombi o Dadá das maiores da série em quantas baterias virtuais fossem possíveis imaginar.
O pior de tudo é que lembro de ter sido, ainda moleque, rabeado por todos os grandes surfistas do pico, mas nunca pelo Dadá. Ou seja, o inside sempre teve dono e o Dadá tomou posse de forma mansa e pacífica, mesmo estando sempre mais para o "rabo" da onda.
Depois de anos de inside no 3.100, tendo experimentado insides internacionais como o de Sunset, Señoritas, Haapiti e Macarronis, não fico nem um pouco acanhado em dizer que me especializei na arte de surfar o "quebra coco". Tudo isso sem fama de rabear.
O segredo é simples. Além da arte de surfar, aprendi com o Dadá Figueiredo o famoso olhar "233". Aquele meio de lado, já saindo, indo embora, louco pela onda, que derruba qualquer um. Esse só aprende quem cruzou o Alto da Boa Vista de ônibus em direção ao mar, equilibrando a prancha na roleta.
Com ele faço a melhor parafina ficar escorregadia e a melhor quilha ficar instável. Dificilmente alguém consegue conectar o inside! Nesse momento eu viro o bico, dou duas remadinhas de leve e é só alegria!
8.02.2007
8.01.2007
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