1.06.2008

DNA



Não me lembrava bem por que tinha começado a escrever o Chasing. Dia primeiro de janeiro, lá pelas 2h30 da manhã, caminhando pelo Malecón (Havana, Cuba), me lembrei: eu queria pedir demissão.
Eu tinha decidido o seguinte: tenho uma viagem marcada para as Mentawaii em abril com uns amigos. Passaremos 14 dias num barco como já fizemos há 2 anos atrás. Fico no barco, depois vou pra Bali e, de lá, rodo pela região - e isso incluiria Vietnã, India e sei lá mais o quê - por uns 3 meses e de volta ao Brasil, procuraria um novo emprego. Para um cagão de carteira assinada e plano de saúde como eu, acreditem, isso é como contar pro pai que se é viado.
Tenho um puta medo de ser demitido, ficar sem emprego, sem dinheiro, perder a porra toda - essas babaquices. Mas o surfe muda tudo e talvez, por ele, eu vencesse a vocação para o CEP/CPF/RG/VGBL que tenho no meu DNA.
Tudo ia bem. Mês a mês eu reunia dinheiro, coragem, informação e motivos que me deixassem de saco ainda mais cheio com o objetivo de tornar o pedido de demissão mais fácil.
A função do Chasing era preencher intelectualmente esse espaço de tempo que ficaria longe do trabalho e perto da vida lá fora. Meus amigos teriam algum contato com o meu dia-a-dia, meus parentes saberiam que eu estaria vivo, corado e gordinho e os desconhecidos teriam mais alguma coisa para ler ou seguir - desculpem a pretensão a lá Ralah Ricota.
No meio do caminho, meus dois chefes me chamam numa sala, miram no meio da minha testa e disparam o gatilho. "Você foi promovido."
Numa reviravolta dramática, aos 30 minutos do segundo tempo, o coquetel CEP/CPF/RG/VGBL, com o reforço de alguns fios de cabelo branco, mudam o rumo do jogo e deixam o Maracanã lotado dos meus anseios revolucionários em um silêncio digno de funeral de indigente. Sem choro, nem vela. Sem tempo pra escrever pro blogue também.
De volta ao Malecón, com a cabeça cheia de morritos e procurando um clichê de resolucão de ano novo, decido tentar mais uma vez. Tenho que conseguir escrever um pouquinho que seja. O blogue nunca deixou o meu surfe melhor, nem me tornou mais rico. Mas platéia também é espetáculo e daqui do ar-condicionado, escrevendo para o Chasing, me sinto um pouquinho mais perto de quem tomou coragem, pediu demissão e está em alguma praia do mundo esperando por uma onda.

5 comentários:

Marco Bezerra disse...

Sei exatamente oq estás falando.
Fudido. Eu sentia a mesma coisa. A diferença é que meus chefes não me chamaram. Quem me chamou foi o meu sonho de morar fora. eu tenho a mesma viagem com o blog. Não desiste dele que é ducaralho.

Nando Zenari disse...

tomara que isso não seja só mais uma promessa de chapado no reveillon. eu li na revista da folha que, em 80% dos casos, as resoluções de ano novo duram só até dia 20 de janeiro. mas acho que eles não colocam surfistas fissurados que moram longe das praias e com necessidade de fazer alguma coisa pra não se sentir tão longe das ondas nessa estatística.
feliz ano novo. boas ondas pra todos.

Godum disse...

voltou né? a galera já tava cansada de esperar.
Longa vida ao Chasing

Anônimo disse...

Magrinho, coloca mais dois anos no prazo, na próxima viagem, que provavelmente não será para Mentawai de novo e sim para algum pico inóspito que vamos descobrir, seu VGBL vai estar bem mais gordinho e corado, aí você chuta o balde....Parabéns pela promoção! e depois do recesso de fim de ano, temos o Chasing de volta!

Anônimo disse...

Finalmente enjoou da Kate Nash... Bacana o texto heim, Sonho adiado, mas não abandonado. Mantenha o hábito de dar uma volta pelo Malecón com a cabeça cheia de mojitos, mesmo sem sair de São Paulo. 2008, ano de ir pra Indonésia como disse o Jota e da volta do Chasing...