A oficina fica com a porta aberta, no canto da loja que é simples, com pranchas penduradas por todo lado e alguns móveis lindos de madeira. Entre as pranchas se destaca uma Dick Brewer de uns 7’8, borda grossa, daquelas que aparecem nos filmes clássicos.
O shaper se chama Gregório, e é filho do Carlos Mota – shaper de móveis conhecido em todo o mundo e um pai bacana, que organiza uma surf trip por ano com toda a família para Mentawaii ou outro lugar dos sonhos. O Gregório é muito jovem, não deve ter 25 anos. E parece entender do riscado: em menos de 10 minutos ele me disse que uma certa redistribuição de espessura, especialmente na frente, vai me ajudar na remada final, para o drop.
Ele anota tudo, anota que precisa escrever “Comanche” do lado do meu nome. Até que pergunta, casualmente como tudo até ali, que cor a prancha vai ser.
Que cor? O Edu, que me levou até lá, olha incrédulo:
- Porra, você não pensou em nada?
- Putz.
Na verdade eu esperava chegar na loja e desencanar. Mas não. Saí de lá com a idéia de mandar no dia seguinte o layout da prancha. Pensei: é só imaginar uma folha em branco em forma de prancha, rabiscar umas coisas e escolher a mais bacana. Volto para o trabalho, perco a tarde fazendo layouts. Dezenas deles. Não gosto de nenhum. Toca o telefone: Felipe.
Eu consigo demorar 5 minutos para tocar no assunto da prancha. Ele diz que faremos hoje à noite, lá na casa dele. Eu desligo, aliviado. E saí percebo que ele só ligou para me dar a chance de pedir o favor.
Noite. Chego à casa do Felipe com uma porção de idéias, referências que eu passei à tarde inteira contemplando sem ir a lugar nenhum. Passamos as quatro horas seguintes pensando na prancha. Depois eu largo o Felipe sozinhoe porque já devo estar atrapalhando em vez de ajudar. Mais meia horinha e o cara me chama, com vários layouts novos e loucos e radicais e... sei lá. Gosto de todos, mas não consigo decidir. Fazer três pranchas parece a única solução, Olho para o Felipe, ele dá risada: é por isso que tem tanta prancha branca no line up.
Mais uma sessão de layouts, desta vez na minha casa. Já cheguei com a idéia fixa, um layout inclusive impresso. Mas assim que olho para ele, desisto outra vez. Já faz quase uma semana que encomendei a prancha, olhei pelo menos cinco vezes por dia para cada layout, criei mais tantos outros.
Até que olho para os primeiros, os mais antigos, que ficaram prontos em alguns minutos. Não é que esse aqui parece ótimo? É esse!
Mas o Felipe só vai saber quando a prancha ficar pronta. E ai do filho da puta que não achar bonita.
Escrevi esse texto há quase um ano, quando mandei fazer minha primeira prancha. Não sei porquê esqueci de mandar para o Chasing na época. De lá para cá nosso blog favorito entrou em coma, recuperou a consciência por algumas horas mas voltou a ser vegetal. Se você está lendo, ele voltou à vida e eu me sinto honrado.
Me toquei que encontrar o texto agora, faltando menos de uma semana para o embarque rumo a Indonésia (ou 5 DU, como diz o Bayard), só pode ser o primeiro sinal das muitas coisas boas que vão acontecer nessa viagem.
Quando encomendei a prancha, eu nem sabia que iria fazer parte do barco. Mas a prancha tem formato e rabeta ótimos para usar lá. Então talvez ela já soubesse que eu ía.
Boa viagem para nós, camaradas.
4.04.2008
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5 comentários:
Boa Jota ! Vamos nessa. A viagem vai ser demais.
Engraçado que acabei de ler teu texto e o Hennek me ligou pra eu ir buscar a minha prancha e a do Godum. To indo lá agora me encontrar com ele. Mais uma prancha branca no line-up.
Grande abraço e até amanhã.
Carlinhos
minhas pranchas são todas psicodélicas... mais fácil de aparecer nas fotos/filmagem.
Tática boa... As bermudas também...
Fala J, to lendo o texto hoje dia 05/04, e só pra lembrar, ainda faltam 5 DU mas agora só 6 DC.
Vamos nessa a trip vai ser irada.
Faltam 6 DC e 5 DU!!!!!!!!!!!
abs.,
Bayard.
Só fui ler hoje dia 07/04. Agora DC=DU. É nós ,fiz uma prancha rouxinol e outra verde pra quebrar tudo!!!!!!!
Godum
Os 6,5 bilhões de habitantes da Terra gostariam de fazer esta viagem à Indonésia. Serão representados pelos cerca de doze que lá estarão. Não esqueçam de mandar os eflúvios que advirão daqueles momentos.
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